quarta-feira, 21 de novembro de 2007

HOUSE X GREY'S ANATOMY

Ambientes hospitalares não são novidades na televisão norte-americana; prova disso são as veteranas ER, em sua 14ª temporada, e Scrubs, na 7ª. Há exatamente quatro temporadas, duas novatas passaram a integrar o grupo de séries baseadas em casos médicos, com a diferença do sucesso infinitamente maior, mantendo uma audiência que há muito suas já citadas companheiras não conquistam.
HOUSE M.D. e GREYS ANATOMY baseiam-se na premissa do cotidiano em hospitais, mas divergem em seus pontos de vista sobre o tema.
Em HOUSE, somos apresentados ao médico ranzinza que dá nome à série e sua equipe, responsáveis pelo departamento de diagnóstico. Figura amargurada e sarcástica, viciado em analgésicos entorpecentes, Dr. Gregory House é considerado um dos mais competentes profissionais não só no hospital – Princenton Plainsboro - em que atua como no estado de New Jersey e nordeste americano, e por isso mesmo, não tem limites em sua conduta, equilibrando-se sempre entre sua genialidade e a absoluta falta de ética.
O personagem defendido por Hugh Laurie (duas vezes vencedor do Globo de Ouro por sua atuação) acaba sendo o grande trunfo da série. HOUSE tem como protagonista um personagem que vai além do anti-heroísmo; um protagonista meticulosamente bem construído, que trilha fronteiras entre o bem e o mau sem entregar-se a maniqueísmos, e cuja conduta profissional é questionável. Um personagem no mínimo subversivo.
Em contraponto ao Dr. House, os cinco demais personagens que habitam a série, tentando a todo instante questionar as atitudes do médico e propor uma “cura” ao caráter ambíguo deste.
Não fosse o luxo de ter um protagonista de peso, HOUSE provavelmente passaria despercebida diante do número de séries que circulam pela TV norte-americana, já que conta com uma estrutura narrativa absolutamente convencional. A cada episódio, somos apresentados através de um prólogo a um novo personagem, que virá a adoecer e passar pelas mãos de House e sua equipe (algo já utilizado na extinta SIX FEET UNDER).
A partir daí a narrativa se desenvolve sem grandes novidades de linguagem: o personagem surgido no prólogo, que estava em sua normalidade, adoece, House e sua equipe discutem o caso, surgem complicações, para no final, o caso ter sua conclusão, que nem sempre é positiva.
Com episódios fechados, a doença de cada personagem surge como a perturbação da normalidade, desencadeando o conflito. Enquanto House, Cameron (Jenifer Morrison), Foreman (Omar Epps) e Chase (Jesse Spencer) lutam contra seu prazo final (o que levará ao clímax), o paciente sofre complicações esporádicas que pontuam bem os turn-points do episódio. Por fim, há a conclusão do caso (geralmente mirabolante) e o episódio termina centrado em seu protagonista ou em alguma questão relacionada a ele.
Repleto de diálogos ácidos e um sarcasmo sagaz e espirituoso, House faz com que a série caminhe por um terreno transitório entre a comédia e o drama (algo que ocorre com outras séries como a já citada GREY’S ANATOMY e DESPERATE HOUSEWIVES), sendo uma obra de gênero bastante ambíguo. Não hesita, porém, em adotar o melodrama sempre quando necessário, algo perdoável diante da complexidade de seu personagem central.
Com uma estrutura narrativa fechada na maioria dos episódios, HOUSE erra a mão sempre que tenta seguir a tendência de “novelização” de outras séries. A companheira GREY’S ANATOMY, por sua vez segue o estilo novelinha em todos os seus marcadores. Baseando sua trama num grupo de médicos residentes do Hospital Seattle Grace, GREY’S ANATOMY traz uma legião de personagens envolvidos em tramas paralelas, que grande parte das vezes se desenvolve durante episódios a fio; um estilo narrativo adotado atualmente em boa parte dos seriados americanos e provavelmente responsável pela quase morte dos sitcoms.
Além de contar com a onisciência narrativa da câmera, GREY’S ANATOMY segue a tendência da voz off narrando os acontecimentos de cada episódio (recurso recentemente adotado também em séries como DESPERATE HOUSEWIVES, GOSSIP GIRL e no filme PECADOS ÍNTIMOS). Narrado por sua protagonista, a Dra. Meredith Grey (Ellen Pompeo), GREY’S adota uma linha diferente da de HOUSE ao deixar os pacientes de lado e focar-se no relacionamento entre os médicos da trama, as competições no mercado de trabalho e a cansativa rotina dentro de um hospital. Ambas, porém, compartilham o levantamento de questões sociais e morais espalhadas história afora.
Apesar da estrutura narrativa clássica, GREY’S ANATOMY constantemente exibe uma linguagem videoclipe quando narra os desdobramentos de suas histórias. Assim, não raramente vemos uma edição rápida, acompanhada de uma trilha sonora pop em meio ao episódio. Os episódios, por sua vez, terminam sempre com um gancho capaz de trazer o espectador de volta na próxima semana.
Considerada uma série “tapa-buraco”, GREY’S ANATOMY estreou sem grande alvoroço na mid-season americana, tornando-se logo depois um hit, seguindo a atual tendência de séries-novela inaugurada por LOST e 24 HORAS (tendência que para nós brasileiros não é novidade, ou nossas telenovelas estariam falidas). Já HOUSE garante-se através de seu protagonista e seus diálogos, já que sua estrutura narrativa funciona, mas é batida e conservadora.

por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

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