quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SOBRE "BROTHERS & SISTERS" E "SIX FEET UNDER"

Assisti há alguns dias o primeiro episódio da badalada BROTHERS & SISTERS e não pude deixar de notar as inúmeras semelhanças entre as tramas da série estrelada por Sally Field e da extinta SIX FEET UNDER.
Em BROTHERS & SISTERS, somos apresentados aos Walker durante uma reunião familiar cujo intuito é comemorar o aniversário de Kitty (Calista Flockhart), uma dos cinco filhos do casal Walker. Mas a paz no lar dos Walker logo é perturbada pelo embate inevitável entre Kitty e a mãe Nora (Sally Field) (Kitty convencera o irmão caçula a lutar na guerra do Afeganistão, fato pelo qual não consegue o perdão da mãe), seguido pelo enfarte fulminante do patriarca da família, que por sua vez, escondia um grande segredo de sua esposa e filhos.
SIX FEET UNDER trazia um início parecido, também durante um momento de confraternização
familiar. É na véspera de Natal, que a família Fischer perde seu patriarca num acidente de trânsito (numa cena espetacular que abre com chave de ouro o primeiro episódio da série). O falecido Sr. Fischer ia a caminha do aeroporto buscar seu primogênito Nate (Peter Krause, de DIRTY SEX MONEY), que há anos abandonara a família (o mesmo ocorre quando conhecemos Kitty em BROTHERS & SISTER já que ela é a única dos filhos que vive distante dos pais). A vida dos Fischer vira de cabeça para baixo, quando Nate se vê obrigado a tocar a funerária da família (ele tem horror a cadáveres) ao lado do irmão homossexual David (Michael C. Hall, o DEXTER), um workaholic perfeccionista que não se conforma de ter que dividir o negócio pelo qual se dedicara a vida toda com o irmão. A família Fischer conta ainda com a caçula Claire (Lauren Ambrose), uma adolescente problemática que estava chapada no momento da morte do pai, e com a matriarca Ruth (Frances Conroy), que se sentindo culpada com a morte do marido, confessa aos filhos um caso extraconjugal que mantivera nos últimos anos.
As semelhanças entre ambas as séries está no arquétipo de seus personagens. Kitty e Nate são motivos de orgulho para os pais por terem sua independência, porém se vêm obrigados a encarar uma nova realidade quando a morte resolve aparecer. A revoltada Claire, está para Justin (Dave Annable); ambos usuários de drogas, os dois caçulas são constantemente alvo de reprovação de suas famílias. Michael, de SIX FEET UNDER, engloba outros dois conflitos vividos por dois personagens de BROTHERS & SISTERS; sofre por ter dificuldades em aceitar a própria homossexualidade, além de ser obcecado pelo trabalho, a ponto de dificilmente tirar o terno usado durante os funerais (assim como Kevin e Sarah, respectivamente).
As séries apresentam ainda em comum, o fato de terem um mesmo ponto de partida: a morte de um ente querido (no caso o chefe das duas famílias), desencadeando uma série de conflitos a serem discutidos por episódios afora.
Ainda em se tratando das coincidências, a presença de Rachel Griffiths no elenco fixo de ambas as séries (em SIX FEET ela era a problemática Brenda; em BROTHERS é a já citada workaholic Sarah).
Finalizadas as semelhanças, BROTHERS & SISTERS promete tomar rumos bem diferentes de SIX FEET UNDER. Enquanto a recém-estreada tem com principal trunfo tratar de assuntos políticos dentro de contextos familiares, valendo-se de muito melodrama (e ótimos diálogos) para tal; a série que retrata o cotidiano de uma funerária é um drama cínico, que toca em temas mais abstratos como a efemeridade da vida e a convivência diária com a morte.
Vencedora do Emmy de melhor atriz para Sally Field, BROTHERS & SISTERS é puro melodrama (gênero que nós brasileiros amamos, ou então nossas telenovelas estariam falidas), só que dos bons! Já SIX FEET UNDER (que tem sua última temporada sendo exibida pela Warner), é apontada pela crítica (ao lado de SOPRANOS) como uma das melhores séries dos últimos anos, sendo até mesmo considerada uma evolução em termos de linguagem televisiva. Na dúvida, vale conferir as duas!
por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

SUPERBAD - É HOJE

Não sou adepto aos besteróis teen norte-americanos. Gosto de QUEM VAI FICAR COM MARY? e do primeiro episódio de AMERICAN PIE, e há anos não via algo bom dentre tantas comédinhas chulas voltadas para o público adolescente.
Faço ainda uma confissão: resisti até hoje a assistir as tão bem recebidas (e bem criticadas) O VIRGEM DE 40 ANOS e a recente LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS, mas acho que não terei escapatória depois de ver à simpática e divertida SUPERBAD – É HOJE. Em comum aos três filmes, a presença do ator e roteirista Seth Rogen, que atua nas três produções e assina o roteiro desta última.
Em SUPERBAD, vemos a história dos amigos Seth (Jonah Hill), Evan (Michael Cera) e Fogell (Christopher Mintz-Plasse), três típicos loosers que estão loucos para perder a virgindade antes do término das aulas. Após prometerem a seus interesses amorosos (ou, melhor dizendo, sexuais) levar bebidas alcoólicas para uma festa, os três tem que driblar a menoridade (nos EUA bebidas alcoólicas só acima de 21 anos!) para cumprirem o prometido. Claro que isso desencadeia inúmeras reações inusitadas e hilárias o que acaba colocando a amizade do grupo (principalmente a de Seth e Evan) a prova.
O grande mérito de SUPERBAD está no fato de tratar seus protagonistas como adolescentes comuns, e que agem como tais, diferente de boa parte da trupe de teens que vemos no cinema holywoodiano. Enquanto em outras comédias do gênero o comum são rostos bonitos e um vocabulário bem-comportado, SUPERBAD traz três “mocinhos” desajeitados, bocas-sujas e de aparência duvidosa.
Em seu terceiro ato, a comédia toca de forma sensível (porém, não menos debochada) em temas comuns ao universo jovem, como o término do ensino médio (e as mudanças vindas com este) e a entrada para a universidade. Escancarada e sem papas na língua (apesar do final romântico meio que inacreditável), SUPERBAD é a prova de que mesmo do besteirol, coisas boas podem surgir. São ocasiões raras, mas que vez ou outra (como esta) acontecem!
por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

sábado, 13 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE

Analisar TROPA DE ELITE é mais do que ressaltar aspectos cinematográficos e narrativos da obra. É aprofundar-se em questões políticas e sociais retratadas com crueza numa produção polêmica desde o princípio. TROPA teve parte de sua equipe seqüestrada durante o processo de filmagem numa favela carioca; tempos depois, uma cópia pirata, não concluída do filme chegava aos camelôs dois meses antes de sua estréia.
Dirigido por José Padilha (ÔNIBUS 174), é interessante constatar que TROPA DE ELITE tangencia em inúmeros temas com outro nacional também lançado recentemente, o ótimo PROIBIDO PROIBIR, de Jorge Duran. A diferença entre ambas as produções, é que enquanto o filme de Duran toca em questões como a corrupção policial e faz críticas aos jovens da classe média brasileira de maneira sutil, José Padilha põe o dedo na ferida, fazendo de TROPA DE ELITE um duro retrato da violência, da corrupção, da miséria, da alienação e do tráfico de drogas. Suas críticas atingem temas que vão desde a corrupção dentro da polícia militar, até a alienação da classe média e da classe universitária, que quase sempre bancam o tráfico, e consequentemente a violência.
Além de retratar o cotidiano da favela (algo já feito em CIDADE DE DEUS), TROPA ocupa-se ainda em retratar três outras realidades: a dos amigos Neto (Caio Junqueira) e André Matias (André Ramiro), policiais honestos que destoam dos demais companheiros de trabalho; a da jovem Maria (Fernanda Machado) que, voluntária numa ONG na favela, acredita na consciência social dos traficantes; e por fim a do Capitão Nascimento (Wagner Moura), que prestes a ter o primeiro filho, procura um substituto para seu cargo na BOPE (a tal tropa de elite), enquanto enfrenta a síndrome do pânico desencadeada pela pressão e violência de seu trabalho.
No elenco, destacam-se os trabalhos de André Ramiro e Caio Junqueira, fazendo de seus personagens homens honrados que se transformam gradualmente diante da dura realidade a qual presenciam, o por fim a excepcional interpretação de Wagner Moura, dando vida a uma figura embrutecida pelos anos de serviço prestados a BOPE.
Mais do que uma mera experiência cinematográfica, TROPA DE ELITE deve ser visto como a denúncia de uma guerra travada todos os dias, servindo de complemento através de um novo ponto de vista ao que Fernando Meireles trazia em CIDADE DE DEUS há cinco anos atrás.
por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ