sexta-feira, 22 de julho de 2011


A transição da infância/juventude para a idade adulta, o crescer, o descobrir o mundo. São temas que me interessam e sensibilizam com frequência no cinema. Pensando nisso, elaborei uma listinha (e lembrando que elas são sempre parciais, injustas e incompletas) de filmes que de alguma forma toquem essa temática e que me marcaram. Fica aberta à sugestões, acréscimos e discordâncias. (ps: ficou uma lista bem díspare!).

As virgens suicidas, de Sofia Coppola
Clube dos cinco, de John Hughes
Conta comigo, de Rob Reiner
Conto de verão, de Éric Rohmer
Deixa ela entrar, de Tomas Alfredson
E sua mãe também, de Alfónso Cuarón
Elefante, de Gus Van Sant
Gatinhas e gatões, de John Hughes
Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, de Alfónso Cuarón
Harry Potter e as relíquias da morte: parte 1, de David Yates
Meus pequenos amores, de Jean Eustache
Meu primeiro amor, de Howard Zieff
O jardim secreto, de Agnieszka Holland
Paranoid Park, de Gus Van Sant
Pauline na praia, de Éric Rohmer
Ponte para Terabítia, de Gabor Csupo
Uma história de amor sueca, de Roy Andersson
Toy Story 3, de Lee Unkrich

terça-feira, 12 de julho de 2011

X-MEN - PRIMEIRA CLASSE

Observações rápidas sobre “X-Men – Primeira Classe”:

· É um filme infinitamente melhor do que “Wolverine”, a última cria da série, mas não e compara aos episódios dirigidos por Bryan Singer.

· Ainda assim, o diretor Matthew Vaughn faz muito pelo filme, e sua aptidão para misè-en-scène fica bastante clara em cenas como a do primeiro encontro do jovem Erik/Magneto e Sebastian Shaw. Já nas sequências de ação, o trabalho parece ser mais burocrático.

· O roteiro me pareceu bastante perneta: joga ações e não nos apresenta as devidas reações, e vice-versa. O caso mais claro que me vem à mente é a debandada de Angel para o lado de Shaw (que quer destruir a raça humana): okay, há a voz off do guarda que tenta entregar os mutantes, mas isso não é o suficiente para a mudança da personagem. Aliás, o primeiro filme trabalhava melhor com a apresentação e o desenvolvimento dos secundários: o sumário narrativo em que eles surgem é ruim, e com exceção de Mística e Fera, são geralmente figuras bem rasas.

· O elenco principal é um achado: Michael Fassbender dá continuidade à ambiguidade que Ian Mckellen empregava a Magneto, Bacon faz um vilão realmente ameaçador e Jennifer Lawrence dá mais camadas à Mística, que assume o “posto” que era de Vampira (Anna Paquin) no original. Rose Byrne (da série “Damages” e do recente “Sobrenatural”), além de ótima, tem acumulado bons trabalhos no cinema (e espero que ela continue aparecendo de lingerie) e James McAvoy faz do Professor Xavier um personagem de extrema complexidade: é interessante notar como a jovialidade e a energia do personagem vão se esvaindo no decorrer do filme. A relação com Mística é um dado à parte: apesar de generoso e preocupado com a “irmã” (na cena em que a aeronave é atingida tem a ação quase automática de protegê-la com a mão), ele não consegue dar-lhe o conforto que a garota procura, algo que virá com Erik. Aliás, boa parte da força do filme está no envolvimento desses três personagens.

· A direção de arte, não só faz um belo trabalho de reconstituição de época, como desenha ambientes luxuosos (os bastidores do poder durante a Guerra Fria), mas também austéros e áridos. Diria que impressiona mais do que os efeitos especiais, que geralmente são atração maior neste tipo de filme.

por Álvaro André Zeini Cruz

quarta-feira, 6 de julho de 2011

PÂNICO 4

Em “Cópia Fiel”, Abbas Kiarostami faz emergir da mise en scène ficcional uma outra narrativa, também fictícia, que se bifurca dentro da cena cuja locação é um Café. Os recém-apresentados escritor James Miller (William Shimel) e Elle (Juliete Binoche), dona de uma galeria de arte, deixam então a condição de meros conhecidos e encarnam a farsa de uma relação amorosa que se desdobra exponencialmente até o final da trama, quando o simples gesto em frente a um espelho – que remete a um momento anterior – descortina o casamento ilusório que acompanhamos de forma crédula graças à experienciação do pacto emocional imposto pela força das atuações na encenação desta relação cotidiana e universal.
A temática de “Cópia Fiel” emana deste jogo que se desdobra: original e cópia podem estabelecer uma experiênciação estética equivalente em suas forças? A farsa criada não nos proporciona a obtenção de um pacto tão, ou mais forte que a “realidade” (entende-se por realidade, o ponto de partida da trama)? Existe a tal cópia fiel e, se sim, qual o seu valor? Curiosamente, são questões que brotam do cinema artístico de Kierostami e vão ao encontro do cinema de gênero repensado por Wes Craven em “Pânico 4”.
Em “Pânico 4”, a questão do espelhamento e da intermediação são constantes e, num mundo onde as imagens se multiplicam em megabytes, torna-se difícil distinguir real e imaginário, verdadeiro e falso. Isso está na sequêncida do prólogo, em que cada cena se revela um simulacro, até o momento em que enfim chegamos à esfera do “real” – o universo concreto onde se desencadeia a trama. Está também na própria diegese fílmica: Ghostface está nas máscaras “comemorativas” do aniversário do massacre; está nos aplicativos dos celulares, que simulam a voz do assassino de Woodsboro – muitos querem ser Ghostface. “A tragédia de uma geração é a piada da outra”, bem pontua um personagem. Mas há aqueles que querem ser Sidney Prescott (Neve Campbell), a garota que sobreviveu, e a busca por este espelhamento é a força que move o filme. Encontra sua quase plenitude no plano abaixo.

Na imagem, Sidney, à esquerda do quadro, e Trudie (Shenae Grimes), sobrinha de Sidney, à direita, num posicionamento idêntico. Obcecada pelo papel de vítima de Sidney, Trudie age todo o filme para que este momento ocorra, e não à toa se coloca no espaço em posição reflexa, algo que é potencializado pelo setup da câmera, que capta os corpos de maneira a corroborar este espelhamento. Há, no entanto, um item que impede a imagem de alcançar a simetria bilateral perfeita: a linha diagonal que corta o chão. Pois sendo a imagem constituída por forma (os corpos) e contraste (o chão), e levando em consideração que esses elementos afetam um ao outro diretamente, a tal linha não deveria estar presente, ou estar ao menos colocada na vertical, distribuindo o espaço em igualdade entre as personagens. Aqui, no entanto, ela não só gera o desequilíbrio da composição, como ainda emoldura Sidney acuada no canto esquerdo do quadro, ainda na posição de vítima, lugar que Trudie almejara desde o princípio, mas sem jamais alcançar: ela continua no papel do algoz e a imagem só reitera isso.
Resta revelar que Trudie, em seu plano para assumir o papel da tia, planejara fazer um remake dos acontecimentos do filme original – uma cópia fiel, só que com ela ao invés de Sidney. O contexto/contraste, no entanto, agora é outro: este não é o “Pânico” de 1996, nem a Woodsboro de hoje é a mesma de outrora, pois houve ao menos um deslocamento de tempo (e com isso transformações sociais, tecnológicas, etc). Se no original a ideia era repensar o cinema de gênero sem sair deste mesmo escopo, neste quarto episódio, é preciso realocá-lo num mundo em que as imagens, de tão voláteis, perderam o impacto (o serial killer que virou piada), bem como os referenciais, que seguem caminhos questionáveis diante desse bombardeio de atos e fatos banalizados, dessa individualização que leva ao desespero por aquilo que, numa visão Lacaniana, é o que todos nós desejamos: sermos desejados (e é o que Trudie quer). Pois “Pânico 4” está situado num tempo de vítimas-celebridades instântaneas, de informações fragmentadas e de uma relevância maior para com imagens dissumuladas ou abjetas, e para Wes Craven, isso afeta diretamente a questão do espelhamento, da referenciação. Ironicamente, seu filme segue os mesmos passos do original, utiliza-se dos mesmos marcadores conhecidos já em 1996. No fundo, no fundo, é uma cópia, um remake, mas tem vida própria, não é mero simulacro: tem seu valor.
por ÁLVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ