domingo, 4 de novembro de 2007

1408

Assistir uma adaptação cinematográfica de Stephen King é quase sempre uma experiência inusitada, já que seus contos e romances têm chances de se tornarem tanto grandes clássicos como CONTA COMIGO, O ILUMINADO e À ESPERA DE UM MILAGRE, quanto coisas medíocres como O APANHADOR DE SONHOS ou a série NIGHTMARES AND DREAMSCAPES.
1408
, o mais recente longa baseado num conto do autor, atinge um meio termo agradável em níveis de qualidade; provavelmente nunca se tornará um clássico, mas é uma obra correta, que cumpre seu papel de narrar uma boa história, além de, é claro, assustar.
A trama gira em torno de Mike Enslin (John Cusack), um consagrado romancista, cujo passado é uma verdadeira incógnita, que é atraído para uma armadilha mortal que o levará a repensar seus próprios atos e crenças. A primeira vista, poderia estar falando de JOGOS MORTAIS, uma das mais badaladas e significativas franquias do cinema de horror nos últimos anos, não fosse o porém da pequena sinopse acima se encaixar também à inúmeras outras obras de suspense e terror. Indo direto ao ponto, a trama de 1408 não apresenta qualquer originalidade perante outros exemplares do gênero, e conta com clichês já exaustivamente explorados tanto pelo cinema afora, quanto pelo próprio Stephen King.
Em termos de linguagem, as inovações também são nulas; o filme conta com uma edição frenética, closes e movimentos de câmeras nervosos e uma irritante mania do cinema de horror recente, a de assustar o público através do som (percebam o recorrente truque da música do rádio-relógio, que sempre inicia abruptamente num volume alto em determinados momentos de tensão).
Mas o que realmente interessa em 1408 é sua habilidade em contar uma boa história (batida, mas boa) limitada ao pequeno espaço de um quarto de hotel (onde se desenvolve praticamente toda a trama). Apesar de algumas pontas soltas (a relação de Mike com o falecido pai, algo aparentemente importante no início da trama, é simplesmente ignorada a partir de certo ponto), o roteiro consegue desenvolver bem as situações propostas, prega alguns sustos criativos e, sobretudo, constrói um bom personagem: bem interpretado por John Cusack, é interessante ver o tom inicialmente descrente e sarcástico de Mike dar lugar a um protagonista frágil e amedrontado.
Co-estralado por Samuel L. Jackson (absolutamente dispensável), 1408 é um entretenimento interessante que por pouco não se compromete no final apelando para um cômodo “Deus ex Machina” (que felizmente é falso). Pode não ser genial, mas ganha minha simpatia pelo simples fato de não recorrer à carnificina de mal gosto promovida pelo concorrente JOGOS MORTAIS.

por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

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