segunda-feira, 28 de abril de 2008

HOUSE, DESPERATE E OUTRAS COISAS DA SEMANA (PASSADA)

Nas linhas abaixo, um comentário breve (e atrasado) sobre as principais séries da semana que terminou sábado. Tentarei fazer com que este se torne um “ritual” semanal. E vamos à segunda-feira!
Ops, nada na segunda-feira, a Sony reprisou o 1º episódio de GREY’S ANATOMY (o que a Izzie salva um cervo). Nada na terça; não consegui ver a estréia de ELY STONE e a Warner mandou CHUCKY para o sábado.
Quarta-feira; aí sim! UGLY BETTY legal como sempre, com direito a Betty tendo visões de Amanda por todo lugar e Justin interpretando Hairspray no metrô. Depois reprise de GOSSIP GIRL (o episódio da piscina) e por último DESPERATE HOUSEWIVES (que não consegui ver na íntegra na quarta e nem no domingo, porque a Sony simplesmente pifou e ficou transmitindo propagandas boa parte do horário). Ainda assim o episódio foi sensacional: há algum tempo não me divertia tanto com Susan Mayer (Terry Hatcher) e ri sem parar com ela tentando sabotar o encontro que Bree (Márcia Cross) arranjou entre Andrew (Shawn Pyfrom) e o empreiteiro responsável pela reconstrução de sua casa. E teve também mais daquilo que tem se tornado uma das coisas mais bacanas de DESPERATE: a amizade entre Lynette Scavo (Felicity Huffman) e a Sra. McCluskey (Kathryn Joosten). A família Scavo, além da mais realista, já era uma das melhores coisas de DESPERATE e Kathryn Joosten anda ganhando tanto destaque que não duvido nada que ela venha fazer parte do elenco fixo da série (o que não seria uma má idéia).
Quinta. Com GOSSIPGIRL na quarta só me sobra HOUSE, o que convenhamos, não é pouca coisa! E há tempos a série não tinha um episódio com uma dinâmica tão interessante, quebrando ao menos um pouco a tal fórmula que vem sido tão criticada (herdada em partes de SIX FEET UNDER e CSI, a qual eu não acho que atrapalhe a série já que HOUSE têm hoje um dos melhores textos da televisão norte-americana). E se em cada episódio estamos acostumados a ver o médico perseguir alguém, neste a perseguição foi dupla: House (Hugh Laurie) infernizou a vida de Cameron (Jennifer Morrison) em troca de uma TV a cabo e (pra variar um pouco) fez de tudo para descobrir o novo caso de Wilson (Robert Sean Leonard, aliás, que surpresa ver o Dr. Wilson com a “vadia interesseira”!). O caso também foi interessante, principalmente porque a paciente vivida por Mira Sorvino era uma pesquisadora que, a trabalho no pólo-sul, fez todo o tratamento através de orientações via webcam. Como se não bastasse, ainda foi capaz de mexer com o coraçãozinho frio e ranzinza de House (rs).
E como sexta-feira é dia nulo na televisão, a semana (televisiva) parou por aí. Até!

por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

sexta-feira, 25 de abril de 2008

ONCE-APENAS UMA VEZ

Em determinado momento de APENAS UMA VEZ (ONCE) o personagem de Glen Hansard convida a garota vivida por Markéta Inglová para passar a noite em sua casa. Percebendo ter ofendido a moça, o rapaz prontamente pede desculpas e se justifica pelo fato de estar solitário há algum tempo, um sofrimento facilmente perceptível num único olhar vindo do personagem durante a cena. Cena esta que resume muito do que será visto neste belíssimo romance vencedor do Oscar de Melhor Canção Original: um filme singelo, calcado na interpretação de seus “atores” e nas inúmeras canções que servem de elemento chave à trama.
Dirigido e roteirizado por John Carney, APENAS UMA VEZ não traz nada de muito inovador em sua narrativa audiovisual, a não ser a inquietude documental da câmera na mão que em alguns momentos (especialmente nos iniciais) deve causar alguma estranheza ao espectador. Fora isso é um filme bastante simplório que, rodado em digital, contem-se apenas em seguir os passos de seus dois protagonistas, captando detalhes cotidianos e dando forma ao delicioso roteiro da trama.
A fotografia, por sua vez, também não é das mais audaciosas (alias, há um “desleixo” formal no que diz respeito aos enquadramentos), mas torna-se interessante notar que ela se apega a pequenos detalhes no decorrer da história: retratando inicialmente uma Irlanda gélida e nublada, alguns tons mais quentes surgem com a aproximação do casal protagonista, mas ainda assim, sem jamais perder a palidez inicial.
Protagonizado por Glen Hansard, cantor irlandês que anteriormente só havia atuado no filme THE COMMITMENTS, de Alan Parker, e pela estreante Markéta Inglová, APENAS UMA VEZ é habilmente interpretado pela dupla que, não só prioriza atuações contidas e minimalistas, como ainda interpreta magnificamente bem as canções do filme (que, compostas por Hansard, deram origem ao roteiro do filme). Assim, enquanto vemos no rapaz um jovem cujo potencial é inibido pela falta de motivação e pelo abando da ex-namorada (e a cena em que ele compõe inspirado nela é talvez a mais bela do filme), a garota surge como um elemento incentivador, muito embora seja extremamente pé-no-chão quando se trata da própria realidade. São personagens opostas que se complementam através da música como cura de uma dor em comum.
APENAS UMA VEZ é, por fim, um encontro bastante feliz entre duas figuras solitárias. Um encontro rápido, singelo em detalhes, porém emocionalmente intenso. E é justamente isso que o faz um filme de uma simplicidade comovente e, no mínimo, desconcertante.


por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

quarta-feira, 23 de abril de 2008

GG, PUSHING DAISIES E UMA DESCULPA ESFARRAPADA

Boas noites! Ok, tenho que admitir certo desleixo de minha parte para com o blog: tenho escrito pouco e praticamente abandonei o mundo televisivo, ao qual pretendo retornar neste post. Minhas desculpas: além do clichê da correria cotidiana, o excesso de material visto e a falta de tempo para comentá-los por escrito. Adianto também que este blog passará por algumas reformulações (boas) dentro em breve. Agora chega de papo; vamos ao que interessa!

Parece que Josh Schwartz anda querendo levar GOSSIP GIRL a um patamar jamais alcançado pelas séries teens. Ta certo que THE OC (também de Schwartz) já não contava com o bando de adolescentes bobinhos da época de DAWSON’S CREEK, mas ainda assim havia uma leveza, uma inocência na galera de Newport Beach que os riquinhos de Manhattan nem de longe conseguem apresentar. Esse pode vir a ser o grande trunfo de GG, mas pode vir a ser também sua maior falha, afinal, ninguém agüenta tanto dramalhão adolescente sem um único momento de descontração. Ainda assim, a série continua num ritmo bom, e o retorno pós-greve dos roteiristas vem sendo marcado por muita ousadia (basta conferir o novo pôster da série) e publicidade pesada. Até agora é ponto para Schwartz!



E só para não deixar passar em branco, PUSHING DAISIES é uma das coisas mais geniais recém-lançadas na TV a cabo. Além de ser um tremendo delírio visual (a série tem sido comparada as obras de Tim Burton, mas há em alguns momentos um toque de David Lynch), PUSHING DAISIES é uma dessas histórias deliciosas que não dá para parar de ver e cria um mundo alegre e fantástico em torno de um tema mórbido e delicado: a morte. E lembrem-se que da última vez que o tema foi abordado, tivemos nada mais nada menos do que a sensacional SIX FEET UNDER (aqueles que não viram têm que correr até a locadora mais próxima).

E por enquanto é só. De volta ao divertido mundo da televisão (a cabo)!

por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

quarta-feira, 16 de abril de 2008

ESTÔMAGO

Não é a toa que Marcos Jorge tem chamado seu filme de “Ratatouille dos pobres”. Tal como a animação da Disney/Pixar, ESTÔMAGO tem o raro talento de aguçar o paladar através dos olhos. E assim como a história do rato que se tornou chef, a saga de Raimundo Nonato toca em questões mais profundas do que aparentam a primeira vista.
Numa co-produção Brasil/Itália, país onde o diretor Marcos Jorge adquiriu vasta experiência audiovisual, ESTÔMAGO tem como cenário inicial o submundo urbano, e é num boteco boca-quente que o deslocado protagonista vivido por João Miguel (CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS) é inserido. Num ambiente completamente estranho ao seu, o nordestino Nonato acaba sendo facilmente explorado pelo dono do bar, até que o sucesso de suas coxinhas o leva diretamente a cozinha de um restaurante italiano, onde inicia um intensivo treinamento culinário.
Mas a trama não se resume a isso e logo de cara conhecemos também o destino do protagonista, o que divide a narrativa em dois distintos períodos temporais. Assim, a prisão de Nonato é acompanhada paralelamente a sua chegada a cidade grande, e ESTÔMAGO tem aí talvez seu maior trunfo: desenvolvendo simultaneamente dois momentos narrativos, a trama acaba criando um duplo clímax; um principal, que diz respeito a prisão do personagem, e um surpresa, que intensifica ainda mais o alucinante desfecho da história.
É imprescindível também destacar a interpretação de João Miguel e a habilidosa construção de seu personagem, que com o passar do tempo deixa-se contaminar pelo ambiente ao qual foi inserido e, sobretudo, pela descoberta de um dom, o qual ele não hesita em usar em benefício próprio. É aí que ESTÔMAGO deixa de ser apenas uma boa história e vai além: se RATATOUILLE trazia a culinária como um questionamento à arte, ESTÔMAGO utiliza-se dela como um meio na busca pelo poder, algo visível no caráter gradualmente corrompido do protagonista.
Co-estrelado pela talentosa Fabiula Nascimento, que dá um charme exótico à prostituta Iria, há no longa de Marcos Jorge certo tom de fabula, que abranda a esporádica violência da trama e dá ao filme uma leveza deliciosa, digna das iguarias preparadas por Nonato.
ESTÔMAGO é, por fim, um ensaio sobre a gula, algo evidente na relação entre seus protagonistas. Ela era o maior pecado de Iria e, num momento de fúria, acabou sendo também o de Nonato. É, portanto a maior fragilidade das inúmeras figuras presentes no filme, personagens que sucumbem quando seduzidos pela boca, ou melhor dizendo, pelo estômago.


por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

quarta-feira, 9 de abril de 2008

2 DIAS EM PARIS

Imagine ANNIE HALL (em português NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA), de Woody Allen, passado em Paris. Adicione aí o já conhecido talento de Julie Delpy como roteirista e atriz. Assim é 2 DIAS EM PARIS, deliciosa comédia romântica roteirizada, dirigida e estrelada pela atriz francesa de ANTES DO PÔR-DO-SOL.
A trama é simples: um casal prestes a retornar da Itália para Nova York, pára dois dias para visitar a família da moça. O que a bipolar Marion (Delpy) e o neurótico Jack (Adam Goldberg) não imaginam é que essas 48 horas serão suficientes para abrir uma cratera em seu relacionamento. E tudo isso através de situações cotidianas, possivelmente presentes no relacionamento de qualquer casal ou de qualquer família.
Esse talvez seja o maior trunfo do roteiro de Delpy (ok, o segundo maior): apresentar conflitos através de fatos pequenos, sem grandes reviravoltas. Assim, o ciúme obsessivo de Jack é cabível a qualquer uma das partes de um casal, tal como as trapalhadas ocorridas durante a viagem, compatíveis ao cotidiano de qualquer turista (pelo menos a grande maioria).
A roteirista acerta ainda mais ao fazer comentários ácidos sobre a cidade-luz: a complicada relação entre franceses e americanos, o pavor que os parisienses têm de turistas que não falam francês (as cenas do táxi e da lanchonete são ótimas) e o trânsito enlouquecido da cidade (numa cena divertidíssima em que o pai da personagem risca os carros estacionados sobre a calçada). Revela-se ainda interessante sua opção em retratar a personalidade da cidade, e não a “Paris cartão postal”. Assim, em momento algum vemos pontos turísticos como a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo; simplesmente transitamos pelos becos e cafés típicos da capital francesa.
Por fim, o maior acerto de Delpy acaba não sendo novidade, já que pode ser conferido em seus trabalhos anteriores como ANTES DO AMANHECER e ANTES DO PÔR-DO-SOL. Mais uma vez, ela demonstra ser uma eximia dialoguista, construindo um verdadeiro pingue-pongue de palavras rebatidas rapidamente de um personagem a outro. Nesses momentos, sua direção torna-se tão ousada quanto o conteúdo de seus diálogos: ela opta em seguir tais duelos verbais com a câmera, correndo de um personagem a outro através de cortes rápidos e um nervoso jogo de consecutivas panorâmicas.
Obviamente inspirado nas comédias de Woddy Allen, 2 DIAS EM PARIS traz o ator Adam Goldberg (ZODÍACO) representando um Allen mais jovem. Neurótico, perturbado e obsessivo, tal como o cineasta em boa parte de seus filmes, Goldberg surge hilário desde a primeira cena, e acaba sendo interessante vermos sua praticidade americana e o horror que ele sente diante da complexa liberdade parisiense. Assim, o choque cultural entre os dois protagonistas acaba dando maior vigor à comédia, e Delpy, por sua vez, aproveita-se da oportunidade para livrar-se da mocinha romântica dos filmes de Linklater.
2 DIAS EM PARIS é, por fim, um retrato alternativo da cidade-luz, que toma caminhos completamente opostos ao recente PARIS, TE AMO, e ressalta o já conhecido talento de Julie Delpy como roteirista, atriz e, também, cineasta.


por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ