terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Páginas Marcadas

As novelas de Manoel Carlos sempre fizeram do realismo cotidiano sua principal matéria-prima, desenvolvendo temas comuns à grande parte da chamada classe média-alta. Assim, surgiram sucessos como “História de Amor”, “Por Amor” e “Laços de Família” que elevaram o autor ao patamar de mais bem sucedido, dentre os já bem sucedidos autores globais.
Com tramas sempre centradas em suas heróicas “Helenas”, Manoel Carlos há muito é visto como um autor típico do universo feminino; narra e descreve as manias, medos e desejos delas como poucos. Acrescenta meia dúzia de polêmicas daquelas bem cabeludas e pronto, está feito mais um grande sucesso, digno da capa da revista Veja.
Há quatro anos resolveu inovar. “Mulheres Apaixonadas” era um emaranho de tramas paralelas com diferentes conflitos. A cada semana, uma das histórias entrava em foco, enquanto as outras caminhavam a “banho Maria”.
Nada que a atual “Páginas da Vida” não faça; aliás, se há algo que Maneco faz bem na atual novela das oito é seguir sua própria cartilha. Acaba sendo um amontoado de tudo aquilo que ele tinha de melhor, transformando-se em tudo aquilo que se possa haver de pior.
“Páginas da Vida” é desastrosa, e quase que constrangedora como obra audiovisual. Como obra teledramaturgica também. Num país carente de informações como o Brasil, uma novela pode e deve apresentar o chamado merchandising social, mas jamais sobreviver dele. Acabam indo as telas pouca história e muita informação jogada sem mais nem menos ao telespectador. Porém, isso é algo para se discutir mais adiante...
O fato ao qual venho chamar atenção é o quão machista é a novela dele, aquele considerado o estudioso da alma feminina, o mesmo Manoel Carlos de outrora.
Basta reparar o quão ativas estão as personagens masculinas na trama; elas que antigamente eram meras coadjuvantes. Vejam José Mayer; ele não deixou de ser o garanhão da história, mas após anos e anos trabalhando com o mesmo autor, ganhou algum conflito. Tudo bem que o cara roubou o próprio sogro, mas convenhamos; para quem antigamente apenas “traçava” boa parte das mocinhas do elenco, não deixa de ser um progresso.
Mas não é dele de quem vim falar. É dela, a mais detestável de todas as Helenas. A Helena de Vera Fischer abriu mão do amado em prol da filha, e depois, engravidou do antigo namorado para salvar a vida da mesma. A de Cristiane Torloni jogou uma união estável para o alto, a fim de reviver uma antiga paixão adolescente. A de Regina Duarte apenas aguarda (sabe-se lá o que). Traída pelo marido e agora prestes a perder a guarda da filha adotiva, a nova Helena simplesmente não age, ela apenas teme e choraminga. É talvez a mulher mais passiva de Manoel Carlos; talvez de toda teledramaturgia recente.
Enfim, assim é a heroína do horário nobre. A ex-viúva Porcina, é hoje uma mulher recatada, sem grandes expectativas, mas com muitos, muitos temores. Uma típica mulher do século XIX (se não estivéssemos no XXI).
Mas há algo ainda mais grave a se destacar. Um dos tantos e pouco empolgantes casais jovens de “Páginas da Vida” fora recentemente desfeito. Jorge (Thiago Lacerda) trocou a namorada (a bela Christine Fernandes) por outra personagem (vivida por Grazi Massafera) nos capítulos finais da trama. Até aí nada demais; segundo o rapaz, a namorada não dava a devida atenção ao relacionamento. Porém, a troca é das mais questionáveis; enquanto a abandonada namorada era uma mulher independente, moderna e viajada; a segunda é submissa, totalmente dependente dos pais e ainda por cima virgem!
Pode parecer perseguição de um mero desocupado como eu, mas nota-se aí certo machismo, não? Não do pobre do personagem que não tem culpa alguma, talvez nem mesmo do próprio autor, que apenas seguiu a vontade alheia, a do público.
O fato é que aos olhos do público, o simples fato de Simone (a namorada!) priorizar a carreira ao invés de um sólido relacionamento com um jovem e charmoso milionário já a faz desmerecedora deste amor. Afinal, para que carreira, dinheiro, independência e cultura se o que vale mesmo é um grande e verdadeiro amor?
Prestes ao “happy end”, “Páginas da Vida” deve chegar ao final com Jorge e Telma (a outra!) a caminho do altar (ela virgem, é claro!). Como novela que se preze tem que ter final feliz para todos (menos para os vilões), Simone não deve acabar sozinha, mas também não terá um final tão happy assim. Mas, quem se importa com a moça que dispensou a oportunidade do verdadeiro amor?
“Páginas da Vida” pode ser catastrófica como telenovela, mas com toda certeza seria um sucesso se publicado como folhetim num dos jornais do século passado.


Santa Helena: traída, agora pode perder a guarda da filha adotiva. Não tem importância; as Helenas de Maneco superam tudo!

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

A última noite

Uma cerimônia burocrática, sem grandes surpresas ou inovações. Assim foi a noite da mais festejada premiação do cinema norte-americano. Mais uma vez, seguindo sua recente tendência pulverizada de ser; ou seja, sem grandes vencedores ou perdedores.
Apresentado razoavelmente bem por Ellen Degeneres, a cerimônia teve pontos interessantes como quando Jack Black, John C. Reilly e Will Ferrel subiram ao palco e questionaram a Academia quanto ao baixo número de indicações a comediantes. A brincadeira feita por Anne Hathaway e Emily Blunt com Meryl Streep também estiveram entre os bons momentos da festa; enquanto as duas fingiam temer a atriz por sua personagem em “O Diabo Veste Prada”, Streep lança-lhes o já conhecido olhar da editora de moda Miranda Pristley, papel pelo qual recebeu sua 14º indicação este ano.
Destaque também para o balé apresentado durante a cerimônia, sempre representado cenas ou objetos relacionados aos indicados.
Vamos aos comentários das principais categorias:

Melhor Animação:
Por mais que admire a mensagem ecológica e o tom sombrio adotados por “Happy Feet”, considero a animação um tanto quanto irregular, analisada em seus aspectos narrativos. Excelente em sua técnica, “Happy Feet” desbanca o favorito da Pixar, “Carros”, sem dúvida superior ao vencedor da categoria.

Melhor Fotografia:
O prêmio fica em boas mãos com “O Labirinto do Fauno”, mas certamente “Filhos da Esperança” não merecia sair de mão abanando.

Melhor Canção Original:
Segundo José Wilker em seu comentário durante a transmissão na Globo, “Dreamgirls” é o primeiro musical cujos números musicais são o que menos interessam. Deve estar certo, já que foi desbancado pela bela canção do documentário de Al Gore; "I Need to Wake Up".

Melhor Montagem:
Apesar da boa montagem do vencedor “Os Infiltrados”, as de “United 93” e “Filhos da Esperança” eram além de superiores, infinitamente mais corajosas.

Melhor Filme Estrangeiro:
Surpresa! O belíssimo e favorito “O Labirinto do Fauno”, após três estatuetas, foi desbancado pelo alemão “A Vida dos Outros”. É esperar para ver...

Melhor Ator Coadjuvante:
Nova surpresa (uma boa agora!). Alan Arkin desbanca o favorito Eddie Murphy. Vibrei neste momento (embora goste muito de Mark Wahlberg). É o primeiro de “Little Miss Sunshine”.

Melhor Roteiro Adaptado:
Uma escolha duvidosa (novamente “Os Infiltrados”)... “Filhos da Esperança” tinha um grande roteiro. “Borat” e “Pecados Íntimos” dizem que também (não assisti a nenhum dos dois). Enfim, parecem tentar compensar Scorsese pelas inúmeras injustiças passadas.

Melhor Atriz Coadjuvante:
Jennifer Hudson (“Dreamgirls”). Preferia Abigail Breslin. Adriana Barraza e Rinko Kikuchi também seriam interessantes. Mas, quem escolhe não sou eu! (risos).

Melhor Roteiro Original:
“Little Miss Sunshine”!!! Vibração ainda maior. A partir daí seria ele x “Infiltrados” a Melhor Filme. Merecidíssimo. Como disse meu colaborador Carlos, este roteiro era uma verdadeira jóia. Tinha “Labirinto”, mas enfim... Fiquei feliz.

Melhor Ator
Forest Whitaker. A certa altura cheguei a acreditar na vitória de Peter O’Toole, já que durante a cerimônia fizeram questão de lembrar sua oito derrotas. Prevaleceu o favorito.

Melhor Atriz
Vamos pular para a próxima categoria... (Hellen Mirren, é claro!)
Ai Penélope!!! (suspiros apaixonados...)

Melhor Direção
Suspense! George Lucas, Francis Ford Coppola e Steven Spielberg no palco; três grandes ídolos meus. Chamam Alvaro André ao palco... Eu acordo! (risos)
And the Oscar goes to... MARTIN SCORSESE!
Merecidíssimo! Todas as dívidas da Academia para com Scorsese estão pagas. Ele está de volta a sua velha forma, num filme menos pretensioso, narrando àquilo que narra melhor: histórias de gângsteres. Não é a melhor direção do ano; certamente Paul Greengrass e o ignorado Alfonso Cuarón estão melhores; talvez (pelo que dizem) Clint Eastwood também... Mas uma premiação longe de ser injusta. Pelo conjunto da obra e pelo bom filme que fez.

Melhor Filme
Dívidas mais do que pagas para com Scorsese. “Os Infiltrados” leva a principal estatueta da noite. Merecido? Difícil dizer... É certamente melhor do que o competente, porém pretensioso “Babel”; para mim, não tão bom quanto “Little Miss Sunshine”. Não assisti aos outros dois. Ficaria com “Little Miss Sunshine”, mas definitivamente “Os Infiltrados” não faz feio.

Observações:
A Globo pode até decepar um pedaço da cerimônia, mas ainda assim da um show de cobertura perto da TNT. Além da tradução mais coerente, ainda tem José Wilker, que convenhamos, é muito melhor que Rubens Ewald Filho.

Falando nele (no Ewald), como ele ousa falar mal de Penélope Cruz?! Esse cara ta querendo briga... só faltou criticar a Anne Hathaway, a Kate Winslet, a Abigail Breslin ou a Natalie Portman. (aí sim eu ficaria nervoso!)

Concordo com Homer Simpson; Jack Nicholson é uma atração a parte na noite.

O título deste post é não só referencia à noite passada, mas também ao excelente filme de Robert Altman, ignorado pela Academia.


por Alvaro André (Alvinho), expulso do palco por pedir uma foto junto a George Lucas

sábado, 24 de fevereiro de 2007

O loto do Oscar

Sim. Tenho eu cá que dar minha opinião também, para podermos ter um pequeno joguinho apostático e ver quem entende mais de nosso delicioso cinema blockbuster do Tio Sam. Ou não; talvez a graça esteja em tentar prever quem ganha e quem não ganha (ainda que eu tenha certeza que vamos contabilizar os erros e acertos e comparar, saudáveis competidores que somos).

Lá vai então:

Melhor Filme: A lógica seria Babel, a não surpresa Cartas de Iwo Jima e a completa zebra Pequena Miss Sunshine. Como a vida é feita de zebras, vai ser Pequena Miss Sunshine.

Melhor diretor: Batalha de grandes projetos. Iñarritu fez praticamente três filmes diferentes para montar Babel; Eastwood corre não só com Cartas de Iwo Jima, mas também com A conquista da Honra, parte do mesmo projeto. Do outro lado, um Scorcese despreocupado em ganhar o Oscar: realizou os Inflitrados entre amigos. Gosto muito mais dele assim. Na balança da justiça da Academia está em débito com Scorcese, pois ele deveria ter ganhado por O touro indomável, muitos anos no passado. Mas a Academia é muito maldosa quando quer ser assim (para a tristeza de muitos). Correndo por fora (talvez fora demais), Paul Greengrass pelo vôo 93 e Stephen Frears pela Rainha, produções muito competentes mas mesmo assim com poucas chances de bater as outras. Resumo da ópera: a Estatueta deve ficar entre Iñarritu e Eastwood e me abstenho de escolher entre eles.

Melhor ator: Este ano, a epidemia das personagens históricas continua com tudo. Agora, saímos um pouco da música (talvez pelo fato de Dreamgirls ser um filme “coletivo” enão ter uma presença forte no elenco para concorrer nas interpretações como principal) e vamos todos pagar tributo às nobres figuras históricas do Velho Mundo. Reza a lenda que ganha Forest Whitaker por O Último Rei da Escócia. Eu não vi o filme, mas deve ganhar mesmo: a crítica dita especializada em reis do século XIX e a família real diz que ele está perfeito no papel; a viúva até surtou quando vi o filme. Ironias à parte, Leonardo di Caprio construiu o melhor personagem da sua carreira em Diamante de Sangue e merece respeito. Will Smith está muito interessante em seu personagem também.

Melhor atriz: Alguma dúvida sobre quem ganha? Essa categoria já foi mais difícil. Seguindo a lógica, Hellen Mirren, A Rainha. Faço essa escolha de coração partido. Deveriam ter deixado pra lançar Volver ano que vem.

Melhor ator coadjuvante: Não sou tão otimista como meu caro colega colaborador. Eddie Murphy, que já ganhou o Globo de Ouro. Particularmente, eu ficaria emocionado de vê-lo recebendo um Oscar, ainda que eu acredite que a melhor atuação dele seja pelo detetive Axel Foley em Um tira da Pesada.

Melhor atriz coadjuvante: E não é que Cate Blanchet conseguiu uma indicação? Após haver reclamado que seu papel em Babel tinha poucas falas (injustiça pois Rinko Kikuchi fala muito menos e está indicada), ela conseguiu uma indicação por Notas sobre um escândalo. E sabem quem vai ganhar? Ela mesmo.

Melhor roteiro original: Paul Haggins, diretor de Crash, ataca novamente como roteirista, indicado por Cartas de Iwo Jima. Interessante esse sujeito, aprecio bastante o seu trabalho. Roteiro original? Difícil escolher. Adorei o roteiro da Rainha, mas não sei se tem força suficiente pra levar a estatueta. Babel é magnificamente bem amarrado (sim, mas Amores Brutos era bem melhor). Pequena Miss Sunshine é uma jóia delicada. O labirinto do Fauno é o menos original, pois cola milhões de referenciais de fábula em um cenário bélico, mas em compensação é de longe o mais criativo. Puxa...temos cá empate técnico.

Melhor roteiro adaptado: Borat é muito criativo. Mas quem ganha são Os Infiltrados, uma das melhores conduções narrativas de história policial já vistas no cinema.

Melhor Fotografia: Tem gente dando o prêmio como certo pra Filhos da Esperança. Eu concordo. Nunca estive numa guerra. Mas agora eu sei como é. Obrigado, señores Cuáron e Alex Rodriguez.

Melhor edição: Do ponto de vista técnico, Vôo 93. Mas não sei...acho que leva Babel. A cadência das seqüências e as linkagens de cena estão boas. Diz meu caro colega colaborador que, se um filme não for indicado na categoria edição, não leva o Oscar. Vamos ver se esse tabu se confirma.

Melhor direção de arte: Uma categoria em que Dreamgirls contabiliza um Oscar pra possível coleção.

Melhor figurino: que surpresa estranha seria O diabo Veste Prada ganhar alguma coisa, não? Mas pode ser que o “Velozes e Furiosos” versão feminina leve um prêmio pra casa sim.

Melhor trilha sonora: Está nas mãos de Gustavo Santaoalla, por Babel. Ele é um dos mais produtivos criadores de trilhas da atualidade. Sou fã desse cara.

Melhor canção: Escolha a sua canção preferida dentre as três canções indicadas de Dreamgirls e estará acertando. É uma chance em três, mas a certeza é uma: Dreamgirls deve sair vitorioso nessa batalha desigual.

Melhor Maquiagem: Quem sabe Mel Gibson não sai com uma estatueta de consolação? Apocalipto tem uma excelente maquiagem.

Melhor edição de som: Ponto pra Cartas de Iwo Jima.

Melhor Mixagem de som: Ah...se é mixagem, então nesse caso vamos com Dreamgirls.

Melhores efeitos especiais: O do Peter Jackson. Ops...ele não lançou nenhum filme esse ano. Mas ano que vem deve ganhar. Quem ganha então? Piratas do Caribe leva seu único Oscar pra casa.

Melhor Animação: Ganham os Carros. Essa temporada não foi muito inspiradora para as animações. Enfim...geralmente ganha aquele que mais vendeu em bilheteria.

Melhor filme estrangeiro: Não gosto de julgar sem ter visto mais que um filme. O Labirinto do Fauno é excelente, mas e os outros? O que têm eles pra nos dizer?

Melhor filme documentário: A mesma coisa da categoria anterior. Se Uma verdade inconveniente ganhar, é bem provável que o próximo presidente americano seja um membro do Partido Democrata. A Academia também captura o atual sentimento político americano.

Melhor documentário em curta metragem, melhor animação em curta metragem e melhor Curta metragem: Tá...nessas horas, você levanta e vai geralmente fazer um lanchinho na cozinha. Mesmo assim, todos esses nomes estranhos em inglês (que provavelmente jamais serão traduzidos pro português), devem conter coisas muito interessantes de serem vistas. Por quê somos privados de vê-las? Poxa...nem num site da Internet podem ser encontrados. Pena que ninguém paga pra assistir curta metragens num cinema.

*Carlos Debiasi é estudante de cinema e se pergunta que fins levam os vencedores da Mega Sena.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

O Oscar segundo Alvaro André

Vamos à brincadeira!... (observem bem a palavra "brincadeira", ou seja, tudo o que virá a ser dito aqui será de uma opinião extramente pessoal e aberta a discordâncias civilizadas, sem tabefes, socos, gritos ou palavrões; afinal, os meu votos são por demais importantes para serem enviados a qualquer uma dessas "Academiazinhas" que tem por aí... rs). Agora sim, vamos ao jogo!

Filme

Vai vencer: Hum... Ano passado era mais fácil (e deu zebra! risos). Ok; fica entre “Cartas de Iwo Jima” e “Babel”.
Meu voto seria: “Little Miss Sunshine”.

“Babel” era o preferido. Hoje, trava uma briga sem precedentes com “Little Miss Sunshine”, “Os Infiltrados” e “Cartas de Iwo Jima”. Há muito não se via uma disputa tão acirrada, mas apesar do grande filme que é, “Babel” apresenta desvantagens perante seus concorrentes. Para começar, é a obra mais pretensiosa da categoria, aquela minimamente pensada para se ganhar um Oscar. Assim, produções mais despojadas como “Miss Sunshine” e “Os Infiltrados” acabam tornando-se infinitamente mais charmosas e interessantes. “Little Miss Sunshine” é sem dúvidas, o mais sublime dentre os competidores; um daqueles filmes cuja mais ranzinza das criaturas é incapaz de não sair da sessão sorrindo. Pelo simples fato de ser uma comédia sutil, charmosa, e com inúmeras questões a abordar, já merecia meu voto. Porém, conta ainda com um elenco impecável, dos melhores reunidos numa produção do ano passado. Sim, meu voto (e minha torcida) com certeza é para “Little Miss Sunshine”.
ps: Ainda assim, ficarei feliz caso “Os Infiltrados” ganhe. Ainda não assisti ao filme de Eastwood.

Diretor

Vai vencer: A velha disputa Scorsese x Eastwood de novo... Desta vez num triângulo; o terceiro vértice é Iñarritu. Vai vencer... vai vencer... Scorsese fora; a disputa será acirradíssima entre Eastwood e Iñarritu.
Meu voto seria: Paul Greengrass, que com certeza merecia seu “Vôo United 93” (para mim, o melhor filme norte-americano do ano passado) dentre os indicados a melhor filme. Gosto do filme, gosto mais ainda do tom, muitas vezes quase que documental, que Greengrass dá a ele. Com sua costumeira fotografia granulada (a mesma de “Domingo Sangrento”), sua câmera rápida e extraindo o melhor de atores desconhecidos do público, e alguns não atores também, Greengrass é hábil em contar duas histórias paralelas; a dos passageiros a bordo do vôo, e a dos bastidores, que envolvem controladores de vôo, força aérea e governo. Sem jamais se entregar ao melodrama, Greengrass faz de “Vôo United 93” um filme angustiantemente real, nada parecido com a bobagem apresentada por Oliver Stone e suas “Torres Gêmeas”.


Atriz

Vai ganhar: Hellen Mirren é claro! A estatueta já deve até mesmo estar na sala da casa dela, bem ao centro dos inúmeros outros prêmios dedicados à sua interpretação por “A Rainha”.
Meu voto seria: Quem me conhece sabe da admiração que tenho pela carreira de Kate Winslet, a qual considero uma das melhores atrizes holywoodianas de sua geração. Há dois anos, ela era a única que poderia desbancar Hilary Swank por “Menina de Ouro” (Winslet fora indicada pelo injustiçado “Brilho Eterno de uma mente sem lembranças”). Não aconteceu. Hoje, ela vem com aquela que os críticos consideram como sua melhor interpretação, no polêmico “Pecados Íntimos”. Como as atuações de Winslet e Mirren ainda não chegaram aos cinemas da cidade sanduíche, fico com a única opção que me resta, e que após meses ainda me fascina. Penélope Cruz está soberba em “Volver”, filme de Almodóvar que injustamente fora indicado somente nesta categoria. Ela faz uma das personagens mais sublimes (e por que não dizer, discretas) já criadas pelo diretor; talvez também a melhor retratação da mulher feita por este, que sempre recorre ao tema. E que atire a primeira pedra aquele incapaz de derrubar uma lágrima enquanto ela canta “Estrella Morente”, num dos momentos mais belos do filme.
Enfim, fico com Penélope, porém feliz caso Winslet leve sua tão merecida estatueta.
ps: Impossível esquecer o excepcional trabalho de Meryl Streep no divertido “O Diabo veste Prada”, embora suas chances bastante pequenas.

Ator

Vai ganhar: Forest Whitaker por “O Último Rei da Escócia”.
Meu voto seria: Assistir unicamente a performance de Will Smith em “À Procura da Felicidade” (por mais que ele esteja excelente neste filme), não me dá pré-requisitos para votar nesta categoria. Voto em branco. Ou, a julgar pela carreira dos candidatos, dividiria o prêmio em cinco (risos). Talvez até domingo eu tenha um favorito.

Atriz Coadjuvante

Vai ganhar: Jennifer Hudson por “Dreamgirls”. Talvez dê zebra e fique com Rinko Kikuchi por “Babel”;
Meu voto seria: Categoria difícil. “Babel” vem com duas competidoras de peso, e será justo caso qualquer uma das duas venha a ganhar. Porém, meu voto vai para Abigail Breslin, por “Little Miss Sunshine”. Encantadora, ela consegue a difícil façanha de ser e interpretar uma criança, algo dificílimo considerando os pequenos prodígios que habitam Hollywood. Abigail destaca-se dentre um elenco de peso, conseguindo dar complexidade a uma personagem, que poderia muito bem existir fundamentada em meia dúzia de caretas e olharzinhos fofinhos. Enfim, mais uma para “Little Miss Sunshine”.

Ator Coadjuvante

Vai ganhar: Eddie Murphy... Sim, aquele mesmo de “O Professor Aloprado”, “Mansão Mal Assombrada”, etc, etc, etc...
Meu voto seria: Apesar de não ter assistido a “Dreamgirls” (e não gosto de julgar nada sem antes conhecer), é difícil imaginar Murphy desbancando caras como Jack Nicholson, Brad Pitt (numa das melhores interpretações de sua carreira) e Ben Affleck (aclamado pela crítica por sua atuação em “Hollywoodland”. Indo direto ao ponto; Alan Arkin está excelente no papel do avô viciado em “Little Miss Sunshine”, e há tempos vem merecendo maior reconhecimento. Por outro lado, Mark Wahlberg faz um trabalho excepcional em “Os Infiltrados”, esbanjando talento num personagem que a princípio não parece ter grandes oportunidades de desenvolver-se. Difícil escolha... ah, Mark Wahlberg. Pronto!

Montagem
Vai ganhar
: Babel.
Meu voto seria: “Vôo United 93”, porém ficaria feliz caso o premio fosse para o excelente “Filhos da Esperança”.

Melhor Filme Estrangeiro
Vai ganhar:
“O Labirinto do Fauno”
Meu voto seria: Considero “O Labirinto do Fauno” o melhor filme lançado em circuito nacional no ano passado (em minha humilde opinião!); e embora não conheça os demais candidatos, a fixação em mim causada pelo filme de Guilherme del Toro certamente garantiria meu voto a ele. Não se esquecendo de destacar o grande trabalho da equipe técnica e o elenco soberbo do filme, com principal atenção à menina Ivana Baquero, num papel cuja dramaticidade é inversamente proporcional a idade da jovem e talentosa atriz. Nada mais a declarar, a não a inexplicável ausência de “Volver” dentre os indicados.

Roteiro Original:
Vai ganhar: “Babel”
Meu voto seria: “Little Miss Sunshine” x “O Labirinto do Fauno”... Dúvida cruel! Vai “O Labirinto do Fauno” (antes que eu mude de idéia).

Roteiro Adaptado:
Vai ganhar: “Pecados Íntimos”
Meu voto seria: Não votaria; só conheço o bom trabalho de “Os Infiltrados”, e o excepcional roteiro de “Filhos da Esperança”. Caso me torturassem e me obrigassem a votar, com certeza meu voto seria para o filme de Cuarón.

Fotografia:
Vai ganhar:
“Filhos da Esperança”
Meu voto seria: “Filhos da Esperança” com toda certeza. Ao menos aqui o filme de Alfonso Cuarón teria que ser prestigiado. Na verdade, é inadmissível que o diretor não esteja dentre os indicados à melhor direção. Num projeto ousado, Cuarón leva as telas uma história surpreendente, que só não derrapa graças ao roteiro bem estruturado e a direção firme que o mexicano dá ao longa. E mesmo que tudo não passasse de uma grande bobagem (o que não é), “Filhos da Esperança” valeria a pena apenas pelos três magníficos planos seqüências (um deles contendo dez minutos!) apresentados pelo diretor. Enfim, mesmo que todo o resto fosse descartável, o resultado ainda assim seria no mínimo interessante.

Animação
Vai ganhar: “Carros”
Meu voto seria: “Carros”, por mais que “Happy Feet” seja fofinho e bem intencionado.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

O céu de Suely

O CÉU DE SUELY


“Um filme sobre a necessidade de nos reinventar”

(Walter Salles, produtor de O céu de Suely)

Vários são os filmes brasileiros que tentaram trazer para a realidade de seus espectadores um Brasil, não tão distante, mas diferente. Desde os clássicos do Cinema Novo (Deus e o Diabo na Terra do Sol ou Rio Zona Norte – que não é bem cinema novo, me perdoem os religiosos fanáticos da Seita Cinefilum), até incursões pelo Brasil a la Road Movie como no internacional Central do Brasil ou Cinema, Aspirinas e Urubus, já se retratava, de maneira interessante e original, o sertão, a cidade, o subúrbio e seus respectivos personagens.

O Céu de Suely também traz temática semelhante. Segundo trabalho do diretor Karim Aïnouz, cujo trabalho anterior, Madame Satã, mostrou um excelente Lázaro Ramos na pele de uma das figuras mais marginalizadas do carnaval carioca, foi muito bem recebido tanto por público e crítica, ganhando o prêmio de melhor filme no Festival do Rio no ano passado. Aïnouz continua a trabalhar com o tema da marginalização, mas transporta seu drama para o sertão, depositando-o na figura de Hermila (coincidência ou não, a atriz também se chama Hermila só que Hermila Guedes).

A protagonista é uma moça que volta de São Paulo para sua cidade natal, com um filho recém-nascido nos braços e a esperança de começar uma vida na companhia do marido, que combina de encontrá-la na cidade, mas nunca aparece. A partir desse momento, Hermila passa a perambular por um mundo de empregos informais, eternos sonhos de enriquecimento fácil dos bilhetes de loteria e rifas, drogas e prostituição, buscando de todas as maneiras encontrar alguma forma de sustento.

O filme conta com atuações consistentes e uma fotografia inteligente que fecha os planos nas expressões das personagens para enfatizar o conflito dramático, recurso bastante explorado também no primeiro trabalho do diretor. A trilha sonora é outro ponto interessante: sem cair na pieguice, confesso que foi uma das raras vezes em que apreciei ouvir baladas sentimentalistas sem qualquer tipo de preconceito.

De maneira geral, O céu de Suely é um bom filme. Não necessariamente uma obra prima de Aïnouz, que deve ainda nos trazer coisas muito interessantes se continuar nesse caminho, mas mesmo assim digno dos prêmios que ganhou até o momento.

Blog oficial do filme, com impressões do diretor e equipe de filmagem: www.cinemaemcena.com.br/ceudesuely/blog.asp


* Carlos Debiasi (comessetudojuntosemacento) é estudante de cinema e passou a gostar de Sidney Magal recentemente.

O Oscar segundo Homer Simpson


Enquanto você aguarda ansioso pelo resultado do Oscar 2007, neste domingo (25/2), o personagem Homer Simpson resolveu comentar e escolher os melhores entre os indicados para levar a estatueta:
Melhor Filme: Pequena Miss Sunshine. Adoro a idéia de uma família em que o filho não fala o avô morre. O sucesso alto-astral do ano!


Melhor Ator: Forest Whitaker - O Último Rei da Escócia. Ele não só roubou a cena como também devorou o elenco.


Melhor Atriz: Escolho a única dessas atrizes que é uma verdadeira norte-americana: Penélope Cruz.


Melhor Ator Coadjuvante: Mark Wahlberg. Adorei vê-lo matando o Matt Damon no final. Ih, entreguei o fim do filme.


Melhor Atriz Coadjuvante: Sharon Stone - Instinto Selvagem 2. Votem nela, pessoal.


Melhor Filme de Animação: Os Simpsons - O Filme. Carros tem carros que falam, mas nós temos pessoas que falam.


Melhor Canção: Não dá pra não votar no musical mais popular de todos os tempos: Uma Verdade Inconveniente.


Melhor Documentário: Jesus Camp. Eu sempre quis saber qual era o sobrenome de Jesus.


Melhor Documentário de Curta-Metragem: Quem liga? Caiam fora da minha premiação. Quero mais closes do Jack Nicholson rindo.


Esnobada mais Inacreditável: Dreamgirls - Em Busca de um Sonho. Não acredito que ele não é candidato a Melhor Filme - ainda mais com Eddie Murphy fazendo os papéis de todas as garotas. Só faltou a Vovó desbocada e flatulenta. Graças a Deus tinha uma ótima em A Rainha.
ps: Talvez eu e Homer sejamos almas gêmeas... Concordamos em nada mais, nada menos do que três categorias; filme, atriz e ator coadjuvante... Penélope Cruz... ai ai... (suspiro sonhador).
Por Alvaro And... Alvinho, suspirando por Penélope Cruz

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

And the Oscar goes to...


Há algumas semanas, "Babel" era o queridinho ao Oscar 2007.
Hoje, é ofuscado por duas produções bem menos pretenciosas, o independente "Little Miss Sunshine" e o "scorsesiano" (se é que o termo existe...) "Os Infiltrados".
Faltando 4 dias para a principal cerimonia do cinema Hollywoodiano, a briga pela estatueta de Melhor Filme parecia estar entre as três produções; isso é claro, até Clint Eastwood ganhar força na reta final da campanha.
Assim, "Cartas de Iwo Jima" corre por fora, e não surpreenderá caso leve o prêmio para casa (ainda mais em se tratando de Eastwood, queridinho da Academia). Conta ainda com o trunfo de fazer parte de um projeto ousado que lhe gerara um irmão, o também indicado (em categorias técnicas) "A Conquista da Honra".
Num ano onde a já conhecida disputa entre Clint Eastwood e Martin Scorsese (os mesmos de "Menina de Ouro" e "O Aviador") volta a atrair os holofotes, tem-se espaço ainda para o premiado (inclusive em Cannes) Iñarritu e seu "Babel", o independete (e melhor, ao meu ver) "Little Miss Sunshine" e o antecipado ganhador do Oscar de Melhor Atriz (algo indiscutível) "A Rainha".

Alguém se arrisca a dar um palpite?!

por Alvaro André Zeini Cruz (vulgo Alvinho), torcendo por "Little Miss Sunshine"

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Babel

BABEL


“Ouça”. Uma simples palavra usada no cartaz de “Babel”; talvez a única capaz de definir e sintetizar os rumos da história que virá a ser contada. Mais do que um longa sobre diferenças étnicas e culturais, “Babel”, do cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu, trata da solidão e das inúmeras dificuldades de comunicação entre seres humanos, através de personagens cotidianos inseridos em situações extremas, que desencadeiam fatalidades em comum a todos.

A trama começa quando dois jovens marroquinos atingem acidentalmente uma turista norte-americana (Cate Blanchett) em excursão pelo Marrocos. Tal incidente tangenciará a história de inúmeros outros personagens, cada qual em seu país.

É o caso da mexicana Amélia (Adriana Barraza), que ilegal há dezesseis anos nos Estados Unidos, trabalha como babá na casa de uma família de norte-americanos, cuidando dos dois filhos de um jovem casal. Porém, quando o patrão Richard (Brad Pitt) se vê obrigado a permanecer no Marrocos, já que a esposa Susan (Blanchett) fora a vítima do já citado incidente, Amélia, numa atitude inconseqüente afim de não perder o casamento do filho, leva as crianças ao México, sem sequer pensar nas dificuldades que enfrentará na travessia de volta.

No Marrocos, acompanhamos uma dupla jornada: enquanto Richard tenta de inúmeras maneiras conseguir socorro para a esposa ferida, algo difícil não só pelo isolamento do local mas também por questões políticas; os garotos Ahmed e Youssef, responsáveis pelo disparo da arma, fogem da polícia local e tentam proteger o pai, que tornara-se o principal suspeito de tal “atentado”.

Finalizando, acompanhamos Chieko, uma adolescente surda-muda, que tem seu cotidiano interferido pela polícia que está à procura de seu pai, suposto dono do rifle que causara o incidente marroquino. A presença da polícia faz com que Chieko relembre o suicídio da mãe e passe a temer pela segurança do pai. Simultaneamente, conhecemos as aflições, revoltas e sobretudo, o isolamento da personagem, que acredita que grande parte de suas tragédias estejam ligadas à sua virgindade.

Extremamente bem dirigido e editado, “Babel” é constantemente um choque de idéias e situações. Assim, dentro de poucos minutos, vemos um bairro de classe média americano ou o mundo tecnológico japonês, em contraste com o subdesenvolvimento mexicano ou a miséria marroquina, aonde Richard tenta quase que em vão encontrar alguma maneira de salvar a esposa.

Mas a proposta de Iñarritu vai além do simples choque de realidades. Na busca por retratar o isolamento humano em diferentes formas, acabam destacando-se pelo menos três grandes personagens. Amélia, que sequer conseguira alguém para cuidar dos filhos do patrão durante uma curta viagem que faria ao México, acaba deslocada em seu próprio país, perante o resto de sua família. Assim, o único que parece compreendê-la em alguns momentos é o sobrinho Santiago (Gael García Bernal), que compartilha com a tia o “sonho americano”. Já Richard, demonstra-se um homem desesperado, cujo sofrimento e a desesperança são tamanhas, que este sequer interfere quando a esposa é operada por um médico veterinário, já que esta seria até então a única maneira de salva-la. Além do personagem bem construído, vale destacar a interpretação de Brad Pitt, em seu melhor papel desde o excelente “Clube da Luta”, há quase dez anos.

Mas é Rinko Kikuchi quem faz a melhor personagem de “Babel”. Sem qualquer auto-estima, Chieko demonstra-se sempre desesperada por qualquer tipo de atenção. Mais do que analisar o isolamento humano, é através dela que Iñarritu levanta questões como a solidão cotidiana e a depressão adolescente, tão comum nos dias de hoje.

Novamente usando o recurso da narração não-cronológica, Iñarritu demonstra o grande cineasta que é concluindo em “Babel” uma analise ao comportamento humano que começara em “Amores Brutos” e seguira em “21 gramas”. Aqui, mais do que diferenças culturais, políticas e sociais, algo que Hollywood já explorara incansavelmente, ele analisa, sobretudo o individualismo humano e as conseqüências de se viver no mundo assim. E é isso que dá a “Babel” um diferencial.

por Alvaro André Zeini Cruz

domingo, 18 de fevereiro de 2007

À Procura da Felicidade

Saudações caros leitores!

Com os objetivos deste blog muito bem definidos e explicados pelo meu caro colaborador e amigo Carlos Debiase em seu post de abertura, me sinto à vontade em pular a parte burocrática (apresentações, texto de abertura, etc, etc, etc...) e pôr mãos à obra.

Assim, segue abaixo a crítica de "À Procura da Felicidade", filme estrelado por Will Smith, no topo das bilheterias brasileiras pela segunda semana consecutiva.

À Procura da Felicidade
O simples fato de trazer Will Smith, o arquétipo vivo do herói norte-americano, na pele de um pai de família desempregado, já faz de “À Procura da Felicidade” uma premissa interessante.
Dirigido por Gabriele Muccino, indicação do próprio Smith que é também produtor do filme, “À Procura da Felicidade” é um drama facilmente digerível; tem os típicos marcadores predominantes do gênero hollywoodiano e personagens pra lá de carismáticos. Não fosse por inúmeras ressalvas, poderia facilmente ter caído na mais pura e simples pieguice. Graças a alguns fatores enumerados adiante, torna-se uma obra singela e memorável daquilo que Hollywood tem de melhor.

A trama centra-se na história real de Chris Gardner, um negro norte-americano, pai de família que no início da década de 80 enfrentara imensas dificuldades financeiras para sustentar sua família. Abandonado pela esposa, e com um filho pequeno para criar, o pouco que lhe resta vem da venda de aparelhos de raio x que vende em hospitais e clínicas especializadas. Acaba encontrando num estágio como corretor de seguros, uma oportunidade para dar um “upgrade” em sua carreira profissional e enfim, utilizar o potencial que acreditara tem quando jovem.

Assim, o primeiro grande trunfo do filme vem na construção de seu protagonista. Sem grandes expectativas de vida, Gardner é um homem frustrado, que vira toda sua ambição e profissionalismo desperdiçados não por falta de vontade, mas sim de oportunidades. Acaba empurrando com a barriga uma situação que começara desde antes do nascimento do filho, sempre encontrando desculpas na esperança de que algum dia as coisas melhorem. Mas apesar da “montanha” (para citar uma passagem do filme) que encontrara em seu caminho, Gardner jamais deixa de ser um sujeito simpático, alegre e por muitas vezes, sonhador. É o que dá o diferencial num personagem fisicamente esgotado, mas rico e carismático no que diz respeito à sua personalidade.

A responsabilidade na criação de uma figura cuja dramaticidade é no mínimo interessante fica a cargo não só do ótimo desenvolvimento que o roteiro dá ao personagem, mas principalmente graças à interpretação singela que Will Smith dá a ele. Sempre cheio de sutilezas, Smith utiliza-se habilmente de seu talento dramático, pouco conhecido nos cinemas. Faz de Gardner uma figura quase que corriqueira, sem jamais deixar que o personagem trilhe o caminho do melodrama. Por outro lado, há momentos em que Smith é genial em utilizar-se de seu já conhecido lado cômico, mas desta vez muito mais contido do que de costume. Acaba criando um personagem encantador, e fazendo jus ao Oscar ao qual fora indicado (embora suas chances na competição sejam mínimas).

Outra aposta acertada da trama é focar grande parte de seu desenvolvimento no relacionamento de Gardner com o filho, o pequeno Christopher, interpretado pelo próprio filho de Smith. Fugindo de inúmeros estereótipos infantis do cinema norte-americano, o garoto dá naturalidade a seu personagem, e acima de tudo, uma certa fragilidade que se torna interessante pelo fato da dependência mútua que este mantém com o pai.

Finalizando, é graças a um roteiro bem construído que “À Procura da Felicidade” jamais se entrega ao melodrama, apesar de utilizar-se de uma série de clichês. Assim, o roteiro jamais tenta apresentar situações absurdas no caminho de seu protagonista; os dramas vividos por Gardner são dramas cotidianos, como o pagamento do aluguel, a busca por um bom emprego, ou a falta de dinheiro para o táxi. Mais do que um roteiro simples e plausível, o resultado que vai às telas é uma história verossímil, fazendo com que nada que se veja seja sequer questionado.

Com uma direção sensível e uma edição pra lá de convencional, “À Procura da Felicidade” peca em coisas pequenas como a alguns clichês que vez ou outra se submete. O resultado que para muitos pode ser questionável, é nada menos do que aquilo que o cinema americano sabe fazer bem ao misturar sensibilidade a alguns valores morais e familiares. Pode não ser novo, mas “À Procura da Felicidade” é Hollywood mostrando o que faz de melhor.
por Alvaro André Zeini Cruz

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Antes da sua diversão, alguns avisos de segurança.

Vamos improvisar aqui um meio discurso de abertura do Blog Meia Entrada. O que propomos a fazer durante esse agradável tempo indefinido em que estivermos a postar coisas aqui nesse lugar – na escala entre ter nenhum e sucesso absoluto, preferimos um meio termo – será trazer algumas informações, reflexões, opiniões e comentários sobre o que viemos aqui para fazer – meu caro colaborador até a Cidade Sorriso Curitibana e eu até esse espaço –, que é falar sobre e estudar cinema.

Todas as semanas, dias, horas - ou meias horas -, vamos colocar à disposição dos olhos da opinião pública e do crivo da crítica especializada em criticar pura e simplesmente, resenhas sérias (ou nem tanto) e informativas (ou nem tanto) sobre filmes que estão em cartaz no cinema ou que você pode achar nas prateleiras dalguma locadora por aí – principalmente com a ajuda dalgum maníaco de óculos e meio careca que consegue achar um filme só pela menção da primeira letra do título original tailandês. Se não entenderam a minha referência, é só passar ali na C...e perguntar pelo E... (sim, esse blog pretende ser politicamente correto e só citará a fonte sob permissão. Quem não concorda com isso, faça seu próprio blog e manifeste a sua opinião. Nós, pelo menos, não vamos acessar).

Ah, claro...por pedido muito bem assentado de meu caro colaborador, vamos também falar um pouco do bom e velho Fersenhapparat (ou Aparato De Se Ver À Distância traduzindo do alemão, povo que se não inventou o tal aparelho, tem uma lingua desgraçadamente complicada) ou pra-ficar-mais-claro-pra-nós-muito-obrigado, a TV. Assim, postaremos capítulos finais das novelas, faremos fuxicos sobre qual estrela foi vista com qual galã e teceremos teorias maldosas sobre o duvidoso gosto do figurinista da Cláudia Raia ou outra estrela do momento. E isso sem as meias verdades que a gente (eu não muito freqüentemente porque só folheio revista de fuxico na fila do cabeleireiro) vê e até se atreve a ler nas revistas especializadas do ramo.

Gostaria de lembrar ainda que nossas resenhas e críticas possuem um sistema de classificação que, se não tivesse sido adotado pelos hotéis, motéis, restaurantes, revistas de cinema, moda, revisão literária ou mulher pelada, teria sido pioneiro nesse mundo: o sistema de estrelinhas. Cinco estrelas, serviço de primeira, hidromassagem e espelho no teto. Nenhuma estrela, cabine de caminhão sem ar condicionado. Deu pra entender? Com direito a meia estrela, obviamente.

Então, seja muito bem vindo, entre e fique à vontade. Só não esqueça de apresentar a carteirinha de estudante na entrada.