segunda-feira, 6 de agosto de 2012

BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE



- Em O Cavaleiro das Trevas a essência parecia estar na figura do herói colocada em xeque. De um lado havia o mal absoluto, sem ordem ou razão, que era o Coringa; do outro o homem de bem, policial incorruptível, aquele que não precisava de máscaras, representado na figura do comissário Gordon. Entres esses polos flutuavam Batman e Harvey Dent, figuras malditas que se reviravam em sentimentos borbulhantes que faziam com que pendessem de um lado para o outro. Neste novo filme, isso acaba, o que deixa as coisas um pouco menos interessantes. Gotham está tão na merda que se Mickey Mouse aparecesse de capa, já seria herói. A cidade precisa tanto de alguém que ocupe este posto, que a mentira construída sobre a imagem de Harvey Dent e a culpa que Gordon (finalmente corrompido, tragédia pessoal pouco explorada pelo filme) carrega por causa disso parecem perder o impacto. 

- Parecia impossível chegar a um antagonista com a força do Coringa. Bane de fato não chega, mas vai próximo. A complexidade não é a mesma do personagem de Ledger, que exercia uma espécie de força centrípeta sobre o filme, mas Hardy e a decupagem de Nolan transformam o sujeito num monstro. Ponto para os dois.

- Falando em decupagem, Nolan me parece filmar bem os personagens, assim como espaços urbanos, sempre que se precisa de alguma imagem grandiosa. A decupagem de ação, no entanto, sofre um retrocesso se comparada à do Batman anterior e ao filme A Origem (filme do qual gosto mais da direção do que do roteiro). Acho que Nolan não consegue localizar espacialmente bem as coisas e a maior prova disso é aquela cena do avião.

- Concordo com Ricardo Calil sobre o roteiro intrincado. Acho até interessante quando olhado de longe, a trama como um todo, mas durante o filme, na hora do vamos ver, acarreta um ritmo que vai irregular até pelo menos a metade do 2º ato. E da-lhe exposição!

- Joseph Gordon-Levitt assume o papel do bem sem escalas, sem traumas e imperfeições, que outrora fora do comissário Gordon. E faz isso muito bem.

- MAS é Anne Hathaway o grande acréscimo do elenco. É sedutora, sem ser ardilosa, diferente da Mulher Gato da Michelle Pfeiffer. Está mais para uma sobrevivente, que astuta, capta a fragilidade do oponente não para atacar, mas para se livrar das situações e tirar seu pescoço da guilhotina. Mas há também uma certa fragilidade, ingenuidade... A primeira cena da personagem, aliás, além de incrível, parece ser uma boa síntese da Selina Kyle de Hathaway.

- No geral, gosto desse realismo que Nolan trouxe à franquia, mas concordo com Inácio Araújo de que a Gotham deste 3º filme é Nova York. Mas é algo que, para mim, não acontecia nem em Begins, nem em O Cavaleiro das Trevas, é uma particularidade deste último filme.

- A parte final é o ponto alto do filme. O turn-point envolvendo Marion Contillard é bom. Melhor ainda porque a trama se desenha colocando todas as possíveis soluções na mão da personagem. É também o momento em que Gary Oldman e seu sempre interessante comissário Gordon ganham destaque, e Anne Hathaway está provando o quão bad ass sua Mulher Gato pode ser.