terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Páginas Marcadas

As novelas de Manoel Carlos sempre fizeram do realismo cotidiano sua principal matéria-prima, desenvolvendo temas comuns à grande parte da chamada classe média-alta. Assim, surgiram sucessos como “História de Amor”, “Por Amor” e “Laços de Família” que elevaram o autor ao patamar de mais bem sucedido, dentre os já bem sucedidos autores globais.
Com tramas sempre centradas em suas heróicas “Helenas”, Manoel Carlos há muito é visto como um autor típico do universo feminino; narra e descreve as manias, medos e desejos delas como poucos. Acrescenta meia dúzia de polêmicas daquelas bem cabeludas e pronto, está feito mais um grande sucesso, digno da capa da revista Veja.
Há quatro anos resolveu inovar. “Mulheres Apaixonadas” era um emaranho de tramas paralelas com diferentes conflitos. A cada semana, uma das histórias entrava em foco, enquanto as outras caminhavam a “banho Maria”.
Nada que a atual “Páginas da Vida” não faça; aliás, se há algo que Maneco faz bem na atual novela das oito é seguir sua própria cartilha. Acaba sendo um amontoado de tudo aquilo que ele tinha de melhor, transformando-se em tudo aquilo que se possa haver de pior.
“Páginas da Vida” é desastrosa, e quase que constrangedora como obra audiovisual. Como obra teledramaturgica também. Num país carente de informações como o Brasil, uma novela pode e deve apresentar o chamado merchandising social, mas jamais sobreviver dele. Acabam indo as telas pouca história e muita informação jogada sem mais nem menos ao telespectador. Porém, isso é algo para se discutir mais adiante...
O fato ao qual venho chamar atenção é o quão machista é a novela dele, aquele considerado o estudioso da alma feminina, o mesmo Manoel Carlos de outrora.
Basta reparar o quão ativas estão as personagens masculinas na trama; elas que antigamente eram meras coadjuvantes. Vejam José Mayer; ele não deixou de ser o garanhão da história, mas após anos e anos trabalhando com o mesmo autor, ganhou algum conflito. Tudo bem que o cara roubou o próprio sogro, mas convenhamos; para quem antigamente apenas “traçava” boa parte das mocinhas do elenco, não deixa de ser um progresso.
Mas não é dele de quem vim falar. É dela, a mais detestável de todas as Helenas. A Helena de Vera Fischer abriu mão do amado em prol da filha, e depois, engravidou do antigo namorado para salvar a vida da mesma. A de Cristiane Torloni jogou uma união estável para o alto, a fim de reviver uma antiga paixão adolescente. A de Regina Duarte apenas aguarda (sabe-se lá o que). Traída pelo marido e agora prestes a perder a guarda da filha adotiva, a nova Helena simplesmente não age, ela apenas teme e choraminga. É talvez a mulher mais passiva de Manoel Carlos; talvez de toda teledramaturgia recente.
Enfim, assim é a heroína do horário nobre. A ex-viúva Porcina, é hoje uma mulher recatada, sem grandes expectativas, mas com muitos, muitos temores. Uma típica mulher do século XIX (se não estivéssemos no XXI).
Mas há algo ainda mais grave a se destacar. Um dos tantos e pouco empolgantes casais jovens de “Páginas da Vida” fora recentemente desfeito. Jorge (Thiago Lacerda) trocou a namorada (a bela Christine Fernandes) por outra personagem (vivida por Grazi Massafera) nos capítulos finais da trama. Até aí nada demais; segundo o rapaz, a namorada não dava a devida atenção ao relacionamento. Porém, a troca é das mais questionáveis; enquanto a abandonada namorada era uma mulher independente, moderna e viajada; a segunda é submissa, totalmente dependente dos pais e ainda por cima virgem!
Pode parecer perseguição de um mero desocupado como eu, mas nota-se aí certo machismo, não? Não do pobre do personagem que não tem culpa alguma, talvez nem mesmo do próprio autor, que apenas seguiu a vontade alheia, a do público.
O fato é que aos olhos do público, o simples fato de Simone (a namorada!) priorizar a carreira ao invés de um sólido relacionamento com um jovem e charmoso milionário já a faz desmerecedora deste amor. Afinal, para que carreira, dinheiro, independência e cultura se o que vale mesmo é um grande e verdadeiro amor?
Prestes ao “happy end”, “Páginas da Vida” deve chegar ao final com Jorge e Telma (a outra!) a caminho do altar (ela virgem, é claro!). Como novela que se preze tem que ter final feliz para todos (menos para os vilões), Simone não deve acabar sozinha, mas também não terá um final tão happy assim. Mas, quem se importa com a moça que dispensou a oportunidade do verdadeiro amor?
“Páginas da Vida” pode ser catastrófica como telenovela, mas com toda certeza seria um sucesso se publicado como folhetim num dos jornais do século passado.


Santa Helena: traída, agora pode perder a guarda da filha adotiva. Não tem importância; as Helenas de Maneco superam tudo!

2 comentários:

Bruno disse...

Só uma coisa: NOVELA SUCKS BIG TIME!


Tem sempre um doutor com o mesmo nome nas novelas do manoel carlos, santas ritas e helenas! Pra mim iso não deixa de refletir o essencial de novela: É sempre o mesmo com atores diferentes!

Que me perdoem os noveleiros! A única novela que eu curti foi a próxima vítima, mas hj já nem empolgo mais com ela...




Abraço!


Cex

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado