sexta-feira, 9 de março de 2007

Salve A Rainha

A RAINHA


Dois filmes sobre reinados distintos. De um lado, um
thriller baseado na figura do ditador ugandense Idi Amin; do outro, uma obra aparentemente singela sobre a morte da princesa Diana e como esta veio a afetar a monarquia inglesa. Em comum, o roteirista Peter Morgan, que pode se vangloriar por dois dos melhores roteiros do ano anterior.

Mas não se engane; a falta de profundidade de “A Rainha” é apenas aparente, já que uma única personagem é dona de uma dramaticidade infinita. E como se não bastasse a complexidade dada à figura de Elizabeth II, há ainda o contraponto de Tony Blair; criando-se assim dois personagens capazes de sustentar sozinhos toda a trama.

Enquanto a Blair, recém-empossado, é aqui retratado como um jovem sensível, idealista e em alguns momentos uma figura frágil, Elizabeth II, “A Rainha”, é descrita como uma mulher racional, cuja fragilidade e o abatimento jamais estarão aparentes, já que é assim que segundo ela própria uma governante deve ser.

É justamente o conflito razão x sensibilidade, o responsável pelo fio condutor da trama; uma das maiores crises recentes da monarquia inglesa. Enquanto as declarações de Blair dão a ele um fortalecimento diante da opinião pública, o isolamento da rainha e da família real é mal visto por seus súditos que passam a julgá-la diante da isenção da morte de Diana.

Mas apesar da aparente “competição” travada entre a família real e o Primeiro Ministro, discordantes de opinião quanto ao caso, é interessante notar o respeito e a admiração de Blair para com Elizabeth. Apesar de incompreendido por companheiros de partido e até mesmo pela esposa, Blair parece ser um dos poucos a compreender a importância do símbolo que a rainha é para sua nação, dizendo ser ela imprescindível para a Inglaterra. É tal idolatria que transforma a personagem vivida magnificamente por Charles Sheen numa figura ainda mais profunda e interessante do que se mostrara a princípio.

Já Hellen Mirren, vencedora do Academy Awards e mundialmente aclamada por sua atuação, simplesmente é a rainha. Num desempenho inesquecível, ela praticamente humaniza uma muralha; através de pequenos gestos e sutilezas, e com um humor tipicamente britânico ela torna uma figura inicialmente inacessível num ser humano que teme por mostras suas angustias e sentimentos. Ironicamente, o maior temor de Elizabeth era aquilo que sua detestada nora Diana tinha de melhor (apesar do filme jamais tentar canonizar a imagem da ex-princesa).

Merecedor dos inúmeros prêmios aos quais vem sendo indicado, “A Rainha” é genialmente bem dirigido por Stephen Frears (basta observar a saída que ele encontra ao narrar a morte de Diana). Tecnicamente impecável, é um filme que faz jus a sua majestade não só por ter duas excelentes interpretações como núcleo (e acreditem, Hellen Mirren quase nos faz reverencia-la), mas pela habilidade com a qual nos apresenta o poder de uma figura, uma “simples” mulher. É sem dúvidas um grande filme sobre um símbolo ainda venerado pela sua quase inexplicável realeza milenar.

por Alvaro André Zeini Cruz, ainda ocupado reverenciando sua majestade

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