domingo, 18 de fevereiro de 2007

À Procura da Felicidade

Saudações caros leitores!

Com os objetivos deste blog muito bem definidos e explicados pelo meu caro colaborador e amigo Carlos Debiase em seu post de abertura, me sinto à vontade em pular a parte burocrática (apresentações, texto de abertura, etc, etc, etc...) e pôr mãos à obra.

Assim, segue abaixo a crítica de "À Procura da Felicidade", filme estrelado por Will Smith, no topo das bilheterias brasileiras pela segunda semana consecutiva.

À Procura da Felicidade
O simples fato de trazer Will Smith, o arquétipo vivo do herói norte-americano, na pele de um pai de família desempregado, já faz de “À Procura da Felicidade” uma premissa interessante.
Dirigido por Gabriele Muccino, indicação do próprio Smith que é também produtor do filme, “À Procura da Felicidade” é um drama facilmente digerível; tem os típicos marcadores predominantes do gênero hollywoodiano e personagens pra lá de carismáticos. Não fosse por inúmeras ressalvas, poderia facilmente ter caído na mais pura e simples pieguice. Graças a alguns fatores enumerados adiante, torna-se uma obra singela e memorável daquilo que Hollywood tem de melhor.

A trama centra-se na história real de Chris Gardner, um negro norte-americano, pai de família que no início da década de 80 enfrentara imensas dificuldades financeiras para sustentar sua família. Abandonado pela esposa, e com um filho pequeno para criar, o pouco que lhe resta vem da venda de aparelhos de raio x que vende em hospitais e clínicas especializadas. Acaba encontrando num estágio como corretor de seguros, uma oportunidade para dar um “upgrade” em sua carreira profissional e enfim, utilizar o potencial que acreditara tem quando jovem.

Assim, o primeiro grande trunfo do filme vem na construção de seu protagonista. Sem grandes expectativas de vida, Gardner é um homem frustrado, que vira toda sua ambição e profissionalismo desperdiçados não por falta de vontade, mas sim de oportunidades. Acaba empurrando com a barriga uma situação que começara desde antes do nascimento do filho, sempre encontrando desculpas na esperança de que algum dia as coisas melhorem. Mas apesar da “montanha” (para citar uma passagem do filme) que encontrara em seu caminho, Gardner jamais deixa de ser um sujeito simpático, alegre e por muitas vezes, sonhador. É o que dá o diferencial num personagem fisicamente esgotado, mas rico e carismático no que diz respeito à sua personalidade.

A responsabilidade na criação de uma figura cuja dramaticidade é no mínimo interessante fica a cargo não só do ótimo desenvolvimento que o roteiro dá ao personagem, mas principalmente graças à interpretação singela que Will Smith dá a ele. Sempre cheio de sutilezas, Smith utiliza-se habilmente de seu talento dramático, pouco conhecido nos cinemas. Faz de Gardner uma figura quase que corriqueira, sem jamais deixar que o personagem trilhe o caminho do melodrama. Por outro lado, há momentos em que Smith é genial em utilizar-se de seu já conhecido lado cômico, mas desta vez muito mais contido do que de costume. Acaba criando um personagem encantador, e fazendo jus ao Oscar ao qual fora indicado (embora suas chances na competição sejam mínimas).

Outra aposta acertada da trama é focar grande parte de seu desenvolvimento no relacionamento de Gardner com o filho, o pequeno Christopher, interpretado pelo próprio filho de Smith. Fugindo de inúmeros estereótipos infantis do cinema norte-americano, o garoto dá naturalidade a seu personagem, e acima de tudo, uma certa fragilidade que se torna interessante pelo fato da dependência mútua que este mantém com o pai.

Finalizando, é graças a um roteiro bem construído que “À Procura da Felicidade” jamais se entrega ao melodrama, apesar de utilizar-se de uma série de clichês. Assim, o roteiro jamais tenta apresentar situações absurdas no caminho de seu protagonista; os dramas vividos por Gardner são dramas cotidianos, como o pagamento do aluguel, a busca por um bom emprego, ou a falta de dinheiro para o táxi. Mais do que um roteiro simples e plausível, o resultado que vai às telas é uma história verossímil, fazendo com que nada que se veja seja sequer questionado.

Com uma direção sensível e uma edição pra lá de convencional, “À Procura da Felicidade” peca em coisas pequenas como a alguns clichês que vez ou outra se submete. O resultado que para muitos pode ser questionável, é nada menos do que aquilo que o cinema americano sabe fazer bem ao misturar sensibilidade a alguns valores morais e familiares. Pode não ser novo, mas “À Procura da Felicidade” é Hollywood mostrando o que faz de melhor.
por Alvaro André Zeini Cruz

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