quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

O céu de Suely

O CÉU DE SUELY


“Um filme sobre a necessidade de nos reinventar”

(Walter Salles, produtor de O céu de Suely)

Vários são os filmes brasileiros que tentaram trazer para a realidade de seus espectadores um Brasil, não tão distante, mas diferente. Desde os clássicos do Cinema Novo (Deus e o Diabo na Terra do Sol ou Rio Zona Norte – que não é bem cinema novo, me perdoem os religiosos fanáticos da Seita Cinefilum), até incursões pelo Brasil a la Road Movie como no internacional Central do Brasil ou Cinema, Aspirinas e Urubus, já se retratava, de maneira interessante e original, o sertão, a cidade, o subúrbio e seus respectivos personagens.

O Céu de Suely também traz temática semelhante. Segundo trabalho do diretor Karim Aïnouz, cujo trabalho anterior, Madame Satã, mostrou um excelente Lázaro Ramos na pele de uma das figuras mais marginalizadas do carnaval carioca, foi muito bem recebido tanto por público e crítica, ganhando o prêmio de melhor filme no Festival do Rio no ano passado. Aïnouz continua a trabalhar com o tema da marginalização, mas transporta seu drama para o sertão, depositando-o na figura de Hermila (coincidência ou não, a atriz também se chama Hermila só que Hermila Guedes).

A protagonista é uma moça que volta de São Paulo para sua cidade natal, com um filho recém-nascido nos braços e a esperança de começar uma vida na companhia do marido, que combina de encontrá-la na cidade, mas nunca aparece. A partir desse momento, Hermila passa a perambular por um mundo de empregos informais, eternos sonhos de enriquecimento fácil dos bilhetes de loteria e rifas, drogas e prostituição, buscando de todas as maneiras encontrar alguma forma de sustento.

O filme conta com atuações consistentes e uma fotografia inteligente que fecha os planos nas expressões das personagens para enfatizar o conflito dramático, recurso bastante explorado também no primeiro trabalho do diretor. A trilha sonora é outro ponto interessante: sem cair na pieguice, confesso que foi uma das raras vezes em que apreciei ouvir baladas sentimentalistas sem qualquer tipo de preconceito.

De maneira geral, O céu de Suely é um bom filme. Não necessariamente uma obra prima de Aïnouz, que deve ainda nos trazer coisas muito interessantes se continuar nesse caminho, mas mesmo assim digno dos prêmios que ganhou até o momento.

Blog oficial do filme, com impressões do diretor e equipe de filmagem: www.cinemaemcena.com.br/ceudesuely/blog.asp


* Carlos Debiasi (comessetudojuntosemacento) é estudante de cinema e passou a gostar de Sidney Magal recentemente.

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