segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Babel

BABEL


“Ouça”. Uma simples palavra usada no cartaz de “Babel”; talvez a única capaz de definir e sintetizar os rumos da história que virá a ser contada. Mais do que um longa sobre diferenças étnicas e culturais, “Babel”, do cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu, trata da solidão e das inúmeras dificuldades de comunicação entre seres humanos, através de personagens cotidianos inseridos em situações extremas, que desencadeiam fatalidades em comum a todos.

A trama começa quando dois jovens marroquinos atingem acidentalmente uma turista norte-americana (Cate Blanchett) em excursão pelo Marrocos. Tal incidente tangenciará a história de inúmeros outros personagens, cada qual em seu país.

É o caso da mexicana Amélia (Adriana Barraza), que ilegal há dezesseis anos nos Estados Unidos, trabalha como babá na casa de uma família de norte-americanos, cuidando dos dois filhos de um jovem casal. Porém, quando o patrão Richard (Brad Pitt) se vê obrigado a permanecer no Marrocos, já que a esposa Susan (Blanchett) fora a vítima do já citado incidente, Amélia, numa atitude inconseqüente afim de não perder o casamento do filho, leva as crianças ao México, sem sequer pensar nas dificuldades que enfrentará na travessia de volta.

No Marrocos, acompanhamos uma dupla jornada: enquanto Richard tenta de inúmeras maneiras conseguir socorro para a esposa ferida, algo difícil não só pelo isolamento do local mas também por questões políticas; os garotos Ahmed e Youssef, responsáveis pelo disparo da arma, fogem da polícia local e tentam proteger o pai, que tornara-se o principal suspeito de tal “atentado”.

Finalizando, acompanhamos Chieko, uma adolescente surda-muda, que tem seu cotidiano interferido pela polícia que está à procura de seu pai, suposto dono do rifle que causara o incidente marroquino. A presença da polícia faz com que Chieko relembre o suicídio da mãe e passe a temer pela segurança do pai. Simultaneamente, conhecemos as aflições, revoltas e sobretudo, o isolamento da personagem, que acredita que grande parte de suas tragédias estejam ligadas à sua virgindade.

Extremamente bem dirigido e editado, “Babel” é constantemente um choque de idéias e situações. Assim, dentro de poucos minutos, vemos um bairro de classe média americano ou o mundo tecnológico japonês, em contraste com o subdesenvolvimento mexicano ou a miséria marroquina, aonde Richard tenta quase que em vão encontrar alguma maneira de salvar a esposa.

Mas a proposta de Iñarritu vai além do simples choque de realidades. Na busca por retratar o isolamento humano em diferentes formas, acabam destacando-se pelo menos três grandes personagens. Amélia, que sequer conseguira alguém para cuidar dos filhos do patrão durante uma curta viagem que faria ao México, acaba deslocada em seu próprio país, perante o resto de sua família. Assim, o único que parece compreendê-la em alguns momentos é o sobrinho Santiago (Gael García Bernal), que compartilha com a tia o “sonho americano”. Já Richard, demonstra-se um homem desesperado, cujo sofrimento e a desesperança são tamanhas, que este sequer interfere quando a esposa é operada por um médico veterinário, já que esta seria até então a única maneira de salva-la. Além do personagem bem construído, vale destacar a interpretação de Brad Pitt, em seu melhor papel desde o excelente “Clube da Luta”, há quase dez anos.

Mas é Rinko Kikuchi quem faz a melhor personagem de “Babel”. Sem qualquer auto-estima, Chieko demonstra-se sempre desesperada por qualquer tipo de atenção. Mais do que analisar o isolamento humano, é através dela que Iñarritu levanta questões como a solidão cotidiana e a depressão adolescente, tão comum nos dias de hoje.

Novamente usando o recurso da narração não-cronológica, Iñarritu demonstra o grande cineasta que é concluindo em “Babel” uma analise ao comportamento humano que começara em “Amores Brutos” e seguira em “21 gramas”. Aqui, mais do que diferenças culturais, políticas e sociais, algo que Hollywood já explorara incansavelmente, ele analisa, sobretudo o individualismo humano e as conseqüências de se viver no mundo assim. E é isso que dá a “Babel” um diferencial.

por Alvaro André Zeini Cruz

Um comentário:

Bruno disse...

Legal!
Vou assistir!
Desculpa Alvinho. Eu sou lacônico assim mesmo, vc sabe.

Cex