domingo, 6 de janeiro de 2008

ACROSS THE UNIVERSE

Grandes “crianças”, trajando “fraldas” e coturnos militares, adentram território vietnamita suportando sobre os ombros o peso colossal da Estátua da Liberdade. Este único plano certamente seria o suficiente para fazer valer ACROSS THE UNIVERSE, caso todo o resto fosse uma verdadeira bobagem. Acaba sendo mais uma belíssima metáfora visual, em meio a inúmeros outros momentos de inspiração, criatividade e ousadia apresentados filme afora.
ACROSS THE UNIVERSE revela-se logo de cara um projeto de enorme coragem e ambição ao construir seu roteiro sobre um romance, que ambientado na década de 60, é costurado através de músicas dos Beattles. Como resultado, algumas derrapadas, como o mau desenvolvimento de alguns personagens secundários e o caráter muitas vezes episódico da trama, mas ainda assim, um roteiro coeso que com boas sacadas e muita criatividade, não apenas desenvolve um belíssimo romance, como ainda cria através principalmente da boa utilização de sua trilha sonora, um comovente e crítico retrato da época.
As falhas do roteiro são bem supridas graças à inventiva direção de Julie Taymor (FRIDA), que demonstra ousadia ao fazer de ACROSS THE UNIVERSE uma verdadeira e hipnótica viagem visual, utilizando-se de efeitos especiais e de fotografia para de criar o universo alucinante (e alucinado) do filme.
Contando com a energia de três atores jovens e talentosos, a trama acerta ainda na construção de seus protagonistas. Assim, quando o boa-vida Max (Joe Anderson) é convocado a “lutar pela Pátria”, sua irmã Lucy (Evan Rachel Wood) se vê obrigada a integrar a militância política como forma de protesto, enquanto seu namorado Jude (Jim Sturgess), um jovem inglês ilegal em território americano, se vê deslocado sem ter uma causa própria para lutar.
Como se não bastasse, ACROSS THE UNIVERSE traz ainda duas seqüências antológicas envolvendo seu trio protagonista: a primeira traz o personagem Max no momento de seu alistamento, onde é examinado por um exército de robôs numa espécie de linha de produção. A segunda, ainda mais poética, traz o protagonista Jude cercado por morangos de sangue, enquanto sua namorada Lucy, que acompanha as atrocidades da guerra pela televisão, tem as imagens da tela projetadas sobre seu próprio rosto. Tudo embalado por “Strawberry Fields Forever”.
Mais do que um grande filme, ACROSS THE UNIVERSE é boa música para os ouvidos e, sobretudo, um delírio visual de primeiríssima qualidade.


por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

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