segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

Qualquer estudante secundarista conhece a obra literária cujo narrador é conhecido como um defunto-autor (MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis). Mas o que dizer de um livro que conta com uma narradora ainda mais inusitada? Este certamente é o maior trunfo de A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, do escritor australiano Marcos Zusak, que utiliza-se da curiosa figura de sua narradora, a morte, em prol da sofisticada estrutura narrativa por ele criada.
A trama, contada por tão incomum narradora, gira em torno de Liesel, a tal “roubadora” de livros. Separada da mãe comunista em plena Alemanha Nazista, a trajetória da garota começa quando esta é adota pelos Hubermann, um casal alemão que a acolhe com dedicação, apesar das dificuldades financeiras enfrentadas. Daí em diante, acompanhamos com o passar dos anos as alegrias e desventuras vividas por Liesel, sejam elas ao lado de sua paixonite infantil, o vizinho Rudy, ou do amigo Max, um judeu escondido no porão, acolhido por Hans e Rosa Hubermann. Mais do que isso, testemunhamos o grande apego que a menina tem à figura do pai, sua paixão pelas palavras e, consequentemente sua compulsão em roubar livros, e por fim, os três encontros presentes durante a história entre protagonista e narradora.
Com um olhar extremamente poético, Zusak faz com que a morte seja a narradora ideal para sua história, fazendo com que esta não só esteja presente na trama, seja através de seus levantamentos filosóficos, seus comentários ácidos, ou sua simples presença predominante na guerra, mas, sobretudo, fazendo com que ela descontrua sua própria narrativa. Assim, não é incomum vermos fatos ocorridos nas páginas finais do livro, antecipados em outros momentos da história; a autoridade da narradora permite tal desconstrução, algo que Zusak explora bem sem enfraquecer qualquer impacto que os rumos da trama possam reservar ao leitor.
Presente na lista de best-sellers há quase um ano nas livrarias brasileiras, A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS é um retrato moderno, poético e emocionante de um tema que já rendeu, e certamente renderá ainda muitas obras. É ainda mais interessante por escolher retratar as conseqüências do Nazismo e do holocausto sobre o próprio povo alemão.

por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ (um intrometido saindo da área audiovisual e adentrando o terreno da literatura)

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