segunda-feira, 17 de março de 2008

SENHORES DO CRIME

A bem-sucedida parceria entre David Cronemberg e Viggo Mortensen vista em MARCAS DA VIOLÊNCIA, volta às telas sem o mesmo frescor de outrora, mas ainda assim num resultado não menos interessante. Cinematograficamente a altura do produto anterior dessa proveitosa união entre diretor e ator, SENHORES DO CRIME (EASTERN PROMISES) perde pontos num único item se comparado a seu antecessor: na falta de um elemento surpresa.
A trama, ambientada numa Londres gélida e claustrofóbica, traz a busca de uma enfermeira pela família de um recém-nascido, cuja mãe morrera no parto. Como guia para sua investigação, a jovem Anna (Naomi Watts) conta com um diário escrito em russo pela falecida, e é justamente a procura de um tradutor para o livro que ela acaba caindo em mãos erradas, arriscando a partir daí sua própria vida.
Aos poucos, Anna vai adentrando um universo completamente avesso ao seu: um submundo violento, masculino e brutal, onde cruzarão seu caminho homens como o aparentemente inofensivo Semyon (Armin Mueller-Stahl) e seu misterioso motorista Nikolai (Viggo Mortensen).
Chegamos aí ao verdadeiro alicerce de SENHORES DO CRIME: Nikolai e a interpretação intensa e bem-marcada de Viggo Mortensen. Encarnando um sujeito violento, dono de uma aparência intimidadora, Mortensen não hesita em dar ao personagem trejeitos propositalmente caricaturais que, na verdade, camuflam profundos segredos de seu personagem.
Em contraponto a Nikolai, a presença de Semyon (uma versão dissimulada de Don Corleone, de O PODEROSO CHEFÃO) e um interessante embate velado entre os dois personagens, que acaba tomando a trama e suprindo uma importante falha do roteiro: a fragilidade nas motivações de sua protagonista feminina.
Por fim, a comentada cena da sauna, além de expor toda a fragilidade do protagonista (e nesse ponto, a nudez do ator é um elemento interessante como construção de personagem), resume muito daquilo que pode ser visto em SENHORES DO CRIME. Diferente de MARCAS DA VIOLÊNCIA, onde a truculência era presente também nos impensáveis turn-points do roteiro (responsáveis por boas surpresas da trama) e nos cortes secos da edição, aqui a crueza da história é vista apenas através das imagens, o que talvez faça com que o atual trabalho de Cronemberg deixe um pouco a desejar se comparado ao anterior. Ainda assim, trata-se de um thriller intenso, bem dirigido e que certamente merece ser visto, nem que seja apenas pela impressionante interpretação de Viggo Mortensen.

por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

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