sexta-feira, 7 de março de 2008

SANGUE NEGRO

Em SANGUE NEGRO (THERE WILL BE BLOOD), de Paul Thomas Anderson, um curioso embate é reincidente durante todo o filme. De um lado, um homem de religiosidade inexistente que, implacável na busca por seus interesses, utiliza-se de dois de seus maiores patrimônios para alcançá-los: sua fortuna e seu conhecimento no uso da retórica. Do outro, um jovem pastor que usufrui de sua inabalável fé para benefício próprio. Ambos os personagens distinguem-se através do meio ao qual se utilizam em sua busca, mas dividem um objetivo em comum: o magnata Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) e o religioso Eli Sunday (Paul Dano) protagonizam aqui uma obsessão desenfreada pelo poder, iniciando assim uma rivalidade que poderá vir a ser mortal.
Mas há ainda um segundo aspecto a ser discutido, que levou SANGUE NEGRO inclusive a ser comparado ao clássico CIDADÃO KANE, de Orson Welles. Paralela a disputa travada pelo poder, duas outras histórias, pertencentes a um único personagem, são contadas: a da rápida ascensão financeira de Daniel Plainview e a de sua gradual decadência moral e humanitária.
Assim, é em torno da interpretação hipnótica de Daniel Day-Lewis e da composição de seu personagem que SANGUE NEGRO é construído. Surgindo como uma figura sombria e calculista, capaz de utilizar-se até mesmo do próprio filho em prol de suas conquistas, o magnata Daniel Plainview e o produto ao qual explora (o petróleo), parecem contagiar as escolhas de Paul Thomas Anderson na concepção do filme. Não por menos, a fotografia vencedora do Oscar é árida e sombria, os cenários e figurinos exalam a miséria do personagem e daqueles por ele manipulados e a trilha sonora composta pelo Radiohead é tão perturbadora quanto o protagonista. Maior do que tais evidências, só mesmo a câmera de Paul Thomas Anderson que parece sofrer uma atração magnética por Daniel Day-Lewis (observem que vários são os momentos em que a câmera permanece fixa no ator, mesmo com a presença de outros personagens na cena), comprovando que SANGUE NEGRO é um filme baseado na construção de seu personagem.
E se Day-Lewis é soberbo ao criar um homem visivelmente embrutecido, Paul Dano faz um trabalho não menos espetacular ao disfarçar toda ambição e pobreza de espírito de seu personagem num jovem aparentemente carismático e delicado, numa interpretação que certamente deveria ter sido mais bem reconhecida do que tem sido.
Contemplativo e difícil de digerir, os quinze silenciosos primeiros minutos de SANGUE NEGRO nada mais são do que um resumo daquilo que está por vir: um filme com diálogos escassos e duros, cuja aridez e escuridão estão estampadas na tela. Diferente da crueldade não-declarada de filmes como JUNO e ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, a truculência e a brutalidade de SANGUE NEGRO são explícitas e confirmam aquilo que o título original anunciava a princípio: certamente “haverá sangue”!


por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

2 comentários:

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