sexta-feira, 25 de abril de 2008

ONCE-APENAS UMA VEZ

Em determinado momento de APENAS UMA VEZ (ONCE) o personagem de Glen Hansard convida a garota vivida por Markéta Inglová para passar a noite em sua casa. Percebendo ter ofendido a moça, o rapaz prontamente pede desculpas e se justifica pelo fato de estar solitário há algum tempo, um sofrimento facilmente perceptível num único olhar vindo do personagem durante a cena. Cena esta que resume muito do que será visto neste belíssimo romance vencedor do Oscar de Melhor Canção Original: um filme singelo, calcado na interpretação de seus “atores” e nas inúmeras canções que servem de elemento chave à trama.
Dirigido e roteirizado por John Carney, APENAS UMA VEZ não traz nada de muito inovador em sua narrativa audiovisual, a não ser a inquietude documental da câmera na mão que em alguns momentos (especialmente nos iniciais) deve causar alguma estranheza ao espectador. Fora isso é um filme bastante simplório que, rodado em digital, contem-se apenas em seguir os passos de seus dois protagonistas, captando detalhes cotidianos e dando forma ao delicioso roteiro da trama.
A fotografia, por sua vez, também não é das mais audaciosas (alias, há um “desleixo” formal no que diz respeito aos enquadramentos), mas torna-se interessante notar que ela se apega a pequenos detalhes no decorrer da história: retratando inicialmente uma Irlanda gélida e nublada, alguns tons mais quentes surgem com a aproximação do casal protagonista, mas ainda assim, sem jamais perder a palidez inicial.
Protagonizado por Glen Hansard, cantor irlandês que anteriormente só havia atuado no filme THE COMMITMENTS, de Alan Parker, e pela estreante Markéta Inglová, APENAS UMA VEZ é habilmente interpretado pela dupla que, não só prioriza atuações contidas e minimalistas, como ainda interpreta magnificamente bem as canções do filme (que, compostas por Hansard, deram origem ao roteiro do filme). Assim, enquanto vemos no rapaz um jovem cujo potencial é inibido pela falta de motivação e pelo abando da ex-namorada (e a cena em que ele compõe inspirado nela é talvez a mais bela do filme), a garota surge como um elemento incentivador, muito embora seja extremamente pé-no-chão quando se trata da própria realidade. São personagens opostas que se complementam através da música como cura de uma dor em comum.
APENAS UMA VEZ é, por fim, um encontro bastante feliz entre duas figuras solitárias. Um encontro rápido, singelo em detalhes, porém emocionalmente intenso. E é justamente isso que o faz um filme de uma simplicidade comovente e, no mínimo, desconcertante.


por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

Um comentário:

Alexandre Rafael Garcia disse...

ei, de onde vc tirou esta informação: "as canções do filme (que, compostas por Hansard, deram origem ao roteiro do filme)"? Nunca li sobre isso, e se foi a Isabela B. que falou, pode desconfiar.
Outra coisa; "simplório", segundo o Housaiss: [que ou aquele que é muito crédulo; tolo, ingênuo, papalvo. Sinônimo de bronco, ingênuo, tolo]
Vc acha isso mesmo?