
Passemos um pouco adiante. Mais especificamente a uma das chamadas de apresentação de elenco da trama, onde há um momento em que Donatela se diz uma santa e é prontamente retrucada pela sogra, personagem vivida por Glória Menezes: “Será mesmo?”.
Pronto. O espectador fora induzido, antes mesmo da estréia, a acreditar na inocência de Flora e na culpa de Donatela. Ao menos até os últimos capítulos que foram ao ar, onde numa já anunciada reviravolta, o autor revelara Flora como a grande vilã da novela das oito.
No entanto, espectador nenhum pode queixar-se de ter sido enganado. Os marcadores que traziam Flora como a assassina de A FAVORITA sempre estiveram presentes, seja na personalidade inconstante da personagem, seja nas palavras do próprio autor, que desde o princípio prometera uma reviravolta revelando assim a verdadeira assassina. Pensando por esse raciocínio, pendendo a culpa para o lado de Donatela, correr-se-ia o risco de recorrer a um artifício fácil e cômodo demais, afinal, aos olhos do grande público ela era a assassina. Ou seja, para não perder o fator surpresa, Carneiro transforma a então considerada mocinha em vilã, e inicia a desconstrução de uma série de preconceitos e antipatias criados em torno daquela que até então se considerava a antagonista.
Assim sendo, A FAVORITA pode estar longe de ser uma revolução teledramaturgica, mas conta com um mérito e uma ousadia que poucas novelas hoje conseguem alcançar (talvez as de Silvio de Abreu e Gilberto Braga, mas ainda assim talvez): dar alguma ambigüidade a um produto onde geralmente as coisas são sempre claras e didáticas.
por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ
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