domingo, 8 de junho de 2008

FALSA LOURA

Em FALSA LOURA, de Carlos Reichembach, Silmara (Rosanne Mulholland) auxilia a colega Briducha (Djin Sganzerla) a dar um up no visual. Para as amigas, ninguém melhor do que Silmara para tal missão, já que ela é bonita, confiante, independente e sedutora. A própria Silmara acredita em tudo isso e, portanto, assume com afinco a transformação da amiga borralheira. Acaba sendo irônico que a protagonista tome assim um caminho inverso àquele que ajudou a outra trilhar, fazendo do filme uma desconstrução de um conhecido conto de fadas.
Só há uma coisa capaz de abalar a confiança de Silmara: o pai, um ex-incendiário abandonado pela esposa e pelos demais filhos. A princípio, é sempre que está ao lado dele que a moça expõe suas fragilidades. Com o passar do tempo, vemos que o pai é apenas uma das três figuras masculinas que surgem para desestabilizar Silmara.
Certa noite, Silmara, Briducha e outras amigas vão ao show do grupo “Bruno e seus Andrés”. O cenário é uma espécie de clube kitsh que operárias de diferentes indústrias freqüentam (Reichembach já havia criado um cenário parecido em ALMA CORSÁRIA). Bruno (Cauã Reymond) é o ídolo de todas elas, e não demora para que Silmara, com toda sua confiança, caminhe firme em direção ao rapaz, com uma garrafa de champagne entre os braços, sem desviar em momento algum o olhar. Pronto: o ídolo não só é conquistado como cede seu cargo a Silmara, que passa a ser objeto de admiração (e porque não dizer projeção) das demais personagens. Mal sabe a moça que sua confiança acabara ali, e que seu declínio estaria prestes a começar.
Daí em diante, Silmara passa a faltar no trabalho para se encontrar com o “namorado”. Não demora, porém, para ela perceber que para ele tal relacionamento não passa de pura diversão. Como se não bastasse, ao dar um basta na situação, Silmara recebe um montante de dinheiro equivalente às faltas que serão descontadas de seu salário. Ela que bem no comecinho do filme fora confundida a uma garota de programa. O primeiro tombo está dado; a protagonista acorda do sonho para a realidade. Para as amigas, porém, nada importa: Silmara é um ideal a ser alcançado, é a mãe de todas as outras (algo explícito na cena em que ela consola Briducha, que levou um pé do namorado), é, por fim, uma lenda. E como ela mesma define, lendas muitas vezes ultrapassam a realidade.
A protagonista se permite ainda sonhar uma segunda vez, até mais alto do que da primeira. Desta vez o ídolo é Luís Ronaldo (Maurício Mattar), que diz procurar uma moça amiga, bonita, inteligente, capaz de acompanhar um homem de tal gabarito. A Cinderela se põe novamente a sonhar e nem é preciso dizer que a queda é ainda maior. Perder a primeira vez pode ser azar, mas na segunda, a mensagem de Reichembach fica clara.
Em FALSA LOURA, o diretor opta por explorar o subúrbio e habita-lo por estereótipos típicos a esse mundo popular. E não só os cabelos louros de Silmara são falsos; há em momentos do filme a predominância de uma artificialidade, um tom meio fake, especialmente nos diálogos. Não se engane; é tudo parte de uma linguagem que dá a obra traços de fábula. É justamente disso que trata o filme: uma fábula às avessas, um conto de fadas subvertido. A falsa loura, por fim, nada mais é do que uma Cinderela com vocação para gata borralheira.

por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

3 comentários:

Luiz Rosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Rosa disse...

Aew cara ja viu esse filme que vai sair?
Ta ai o link:

http://www.sonypictures.com.br
/Sony/HotSites/Br/eraumavez/?g
clid=CLP2zLvD5pMCFQnIsgodIxopYw


Abraço cara.

Christopher Faust disse...

Fim dos Tempos é um filme sensacional!