quinta-feira, 8 de maio de 2008

HOMEM DE FERRO

Está aberta a temporada de blockbusters. Nos próximos finais de semana, e muito provavelmente até o final de julho, SPEED RACER, BATMAN, INDIANA JONES e cia. invadem as telas, e se todos mantiverem o vigor do abre-alas HOMEM DE FERRO, a pipoca está garantida no mínimo até as próximas férias.
Estrelado por Robert Downey Jr. e considerado o retorno do ator as grandes produções após seu envolvimento com drogas (o que não significa que ele esteve ausente de grandes filmes, afinal fez ZODÍACO ano passado), HOMEM DE FERRO não é o melhor ou o definitivo filme de super-heróis, mas tem sua cota de pequenas ousadias e o talento único de não se levar a sério, algo que combina perfeitamente à construção de seu protagonista.
Contrariando boa parte dos heróis importados dos quadrinhos, Tony Stark (Downey Jr.) é um bilionário fabricante de armas que tem como características marcantes um senso de humor ácido e um certo cinismo disfarçado. Vítima de um seqüestro comandado por terroristas afegãos, país onde demonstra a força de um novo míssil desenvolvido por sua empresa, Stark conta com aquele que talvez seja seu principal “superpoder” para fugir do cárcere: é dono de uma inteligência invejável e passa o tempo em que é mantido como refém planejando uma armadura suficientemente poderosa para resistir ao poder de fogo (fabricado por ele próprio) de seus seqüestradores.
Mas há ainda um diferencial capaz de fazer com que o protagonista se sobressaia perante seus tantos outros companheiros combatentes do mal. Em HOMEM DE FERRO não há aranhas ou mal sucedidas experiências de laboratório: tal como Bruce Wayne, de BATMAN, a imagem e o poder de Tony Stark como super-herói são integralmente criados e financiados pelo próprio personagem, o que o torna um mocinho ainda mais verossímil e interessante.
Abrindo a trama com agilidade e energia, o diretor Jon Favreau toma caminhos ousados durante o primeiro ato de HOMEM DE FERRO, já que sua escolha em centrar o início da história no seqüestro do protagonista, revela-se não apenas narrativamente acertada, como ainda contextualiza o surgimento do herói num cenário político atual, tangenciando assim, ainda que com menos fervor, algumas críticas feitas por Mike Nichols no excelente JOGOS DO PODER.
Assim, é uma pena que, passada a euforia inicial, HOMEM DE FERRO se entregue tão facilmente a já batida cartilha do gênero, com direito as figuras da mocinha indefesa e do padrasto traiçoeiro (que, embora estereotipados, são impecavelmente vividos por Gwyneth Paltrow e Jeff Bridges) e a outra meia dúzia de clichês que só são perdoáveis graças ao roteiro bem-humorado e a espirituosa presença de Robert Downey Jr. (e chegamos aqui no principal ponto a se destacar).
Embora seja um sujeito cínico, levemente convencido e, em alguns momentos, arrogante, é impossível deixar de sentir certa simpatia por Stark, seja ela causada por seu súbito desejo de reparar os males criados por sua empresa ou por seu humor afiado, repleto de boas sacadas. O fato é que Robert Downey Jr. acaba sendo bastante feliz em sua interpretação, principalmente por dar a um personagem quase que canastrão, um mínimo de complexidade (a cena em que Stark faz uma revelação bombástica durante uma coletiva de imprensa contraria tudo aquilo esperado de um bom super-herói, além de ser engraçadíssima).
Para os que curtem histórias em quadrinhos, HOMEM DE FERRO certamente é um prato cheio. Para os que não gostam, também. Mas é, sobretudo, um pontapé eficiente para uma franquia que demonstra ter fôlego para pelo menos mais algumas histórias.
por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

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