sábado, 13 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE

Analisar TROPA DE ELITE é mais do que ressaltar aspectos cinematográficos e narrativos da obra. É aprofundar-se em questões políticas e sociais retratadas com crueza numa produção polêmica desde o princípio. TROPA teve parte de sua equipe seqüestrada durante o processo de filmagem numa favela carioca; tempos depois, uma cópia pirata, não concluída do filme chegava aos camelôs dois meses antes de sua estréia.
Dirigido por José Padilha (ÔNIBUS 174), é interessante constatar que TROPA DE ELITE tangencia em inúmeros temas com outro nacional também lançado recentemente, o ótimo PROIBIDO PROIBIR, de Jorge Duran. A diferença entre ambas as produções, é que enquanto o filme de Duran toca em questões como a corrupção policial e faz críticas aos jovens da classe média brasileira de maneira sutil, José Padilha põe o dedo na ferida, fazendo de TROPA DE ELITE um duro retrato da violência, da corrupção, da miséria, da alienação e do tráfico de drogas. Suas críticas atingem temas que vão desde a corrupção dentro da polícia militar, até a alienação da classe média e da classe universitária, que quase sempre bancam o tráfico, e consequentemente a violência.
Além de retratar o cotidiano da favela (algo já feito em CIDADE DE DEUS), TROPA ocupa-se ainda em retratar três outras realidades: a dos amigos Neto (Caio Junqueira) e André Matias (André Ramiro), policiais honestos que destoam dos demais companheiros de trabalho; a da jovem Maria (Fernanda Machado) que, voluntária numa ONG na favela, acredita na consciência social dos traficantes; e por fim a do Capitão Nascimento (Wagner Moura), que prestes a ter o primeiro filho, procura um substituto para seu cargo na BOPE (a tal tropa de elite), enquanto enfrenta a síndrome do pânico desencadeada pela pressão e violência de seu trabalho.
No elenco, destacam-se os trabalhos de André Ramiro e Caio Junqueira, fazendo de seus personagens homens honrados que se transformam gradualmente diante da dura realidade a qual presenciam, o por fim a excepcional interpretação de Wagner Moura, dando vida a uma figura embrutecida pelos anos de serviço prestados a BOPE.
Mais do que uma mera experiência cinematográfica, TROPA DE ELITE deve ser visto como a denúncia de uma guerra travada todos os dias, servindo de complemento através de um novo ponto de vista ao que Fernando Meireles trazia em CIDADE DE DEUS há cinco anos atrás.
por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ

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