sábado, 19 de julho de 2014

TRANSFORMERS: A ERA DA EXTINÇÃO


Toda montanha-russa tem seu clímax – geralmente uma vertiginosa queda ou um looping. “Transformers: a era da extinção”, quarto episódio da série de Michael Bay, se engaja a esse estilo de cinema “montanha-russa”; aliás, como boa parte do cinema de ação da Hollywood atual. O problema é que desde o começo entramos nesse grande looping que, com o passar da projeção, se revela eterno. Não há aceleração além daquela que inicia o movimento; estamos, portanto, num movimento uniforme. E, em termos de narrativa, uniformidade tende ao tédio. Nem Mark Wahlberg, melhor ator que o protagonista anterior da série (Shia Labeouf, cujo sucesso, para mim, é um mistério) consegue dar algum interesse ao filme (o conflito entre seu personagem e filha tem a sutileza da pata de um Transformer).

No início da década passada, Doug Liman e Paul Greengrass colocaram em voga a câmera na mão utilizada no cinema de ação, e, sem querer, prestaram um desserviço ao gênero. Claro que a encenação com esse tipo de câmera já existia (inclusive em filmes de ação), mas desde então tem sido usada à exaustão. Pior, trata-se de um “estilo” que facilita um bocado a vida de cineastas medíocres como Bay, afinal, tudo é possível de ser montado – raccords são ignorados e, na dúvida sobre quais planos usar, usam-se todos.

É o que acontece aqui: o filme é picotado para que tudo seja visto sob diversos pontos de vista, como se cada plano de Bay fosse uma obra-prima indispensável. Não é o caso, ainda que o cineasta pareça acreditar piamente nisso. As imagens de Bay sofrem de certo paradoxo: sua câmera capta a ação como se filmasse um carro em exposição num shopping, ou seja, procura valorizar um produto mostrando-o em sob diversos ângulos. São, portanto, imagens publicitárias que, no entanto, esbarram no que foi dito há pouco: os tremeliques do cinema de ação. As imagens publicitárias, que deveriam ser límpidas e belas para que o cliente possa ver (e comprar) o produto, se deixam influenciar por essa “estética” da câmera na mão onde se enxerga cada vez menos. Como resultado, gruas e travellings que, ou se transformam em borrões, ou são interrompidos prematuramente pelo corte (fora a ineficácia de Bay ao compor seus quadros).

Este é o grande paradoxo que habita “A era da extinção”: pendendo entre a publicidade (que Bay faz com ineficiência) e a pretensão pela obra de arte (que Bay acha que faz), tem-se o pior dos filmes: aquele que além de ruim, é inchado.

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