

Perdem-se as boas atuações do elenco estelar. Daniel Day-Lewis, Penélope Cruz, Judi Dench, Kate Hudson e Marion Contillard (provavelmente a melhor coisa do filme!) parecem se divertir em seus personagens. Pena serem, tal como a “parte filme”, meras desculpas para que adentremos ao show, que é o que interessa ao diretor. O próprio Marshall devia estar passando por uma crise parecida a do protagonista Guido Contini, e por isso mesmo investiu na área em que se sente mais confortável. Cria da Broadway, Marshall faz números musicais, no mínimo, competentes. O talento que exibe em coreografar seus atores-dançarinos, porém, não atinge as câmeras: se a decupagem do “filme” é simplória, a do “espetáculo” é quase nula. O palco (de novo o palco) acaba sendo aquilo que há de mais italiano nessa re-releitura do clássico de Fellini (deveria ser Sophia Loren, mas ela é mera figuração de luxo com um papel meramente burocrário – a matriarca italiana – assim como ocorre com Nicole Kidman).
Dizer que permanecemos imóveis na platéia é certo exagero, mas em momento algum penetramos o espaço ou somos sequer dotados de um olhar cinematográfico. No entanto, mais do que essa incompetência que parte da planificação e atinge a imagem, a maior falha de Marshall consiste em sua incapacidade de concatenar as duas partes de seu objeto. Se em Shine a light, Scorsese transformou um show dos Rolling Stones em puro Cinema, em Nine o Cinema é submisso ao simples registro imagético da dança, da música, do espetáculo. O pecado não está, portanto, no novo olhar ao clássico, está na falta de respeito para com o próprio Cinema.
por ALVARO ANDRÉ ZEINI CRUZ
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